domingo, outubro 01, 2006

Três poemas de JOSÉ LAURINDO LEAL DE GÓIS

FLOR DA ALVA

Aqui, a floresta derrama uma flor acesa.
Um grito sobre as marés. Escrevo, então,
a palavra amor, ou pedra.

Uma fatia de silêncio na madrugada
alva de panos.


PÁSSARO IMPOSSÍVEL

Há o lume, uma rosa revelada pela lava no rumor
da manhã. Nos percursos da memória, há esse roedor
de brumas, o coração, onde reside o motivo do voo:
Toda a música é voo, over dose de sons ou silêncios.

Como invencível fábrica de paixões fechadas,
tu conheces as variantes do sonho. O intervalo,
o compasso da vida, nem sempre musical.
Tu conheces a palavra metrónomo,
o voo impossível dos pássaros no fogo das ravinas.


LÂMPADA NO CORAÇÃO DO FOGO

Procuras frios animais no caminho das águas.
Um relógio na cadência da noite. Uma linguagem
no firmamento das palavras.
Desfazes nas mãos a orografia do pânico.
Uma sugestão musical, quase.

José Laurindo Leal de Góis nasceu no Funchal em 1954 e radicou-se em Lisboa na década de 80. Iniciou-se no jornalismo radiofónico entre 1973-75. Revelou-se, como poeta, no “Suplemento 2000”, e na página “Letras & Artes” do Jornal da Madeira. Colaborou na imprensa regional em espaços dedicados à crónica, ensaio e poesia. Integrou-se na Direcção do Ateneu Comercial do Funchal, em 1982. Pertence ao Movimento ILHA (1975).
Participou em Exposições Colectivas e Ciclos de Poesia, organizados pelas Actividades Culturais da Câmara Municipal do Funchal. Em Jogos Florais, Saraus e Recitais promovidos pelo Ateneu Comercial do Funchal. Representou-se em projectos culturais, tais como, Olhares Atlânticos, Biblioteca Nacional-1991 e Leopardi na Madeira (1999).


(Poemas e dados biográficos extraídos do livro do autor “O Fogo e a Lágrima”, edição de CAMPO DAS LETRAS, 2003).

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