I
Maria Madalena, és pecadora, mais pecadora do que a outra naquele tempo em que o Redentor andava pelos caminhos da Galileia, pelas margens do lago Tiberíades, em Genesaré e Cafarnaúm, a anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus. Essa desgraçada de quem saíram, de uma só vez, sete demónios que lhe comiam o espírito e envileciam o corpo, antes de se tornar pura e serva do Senhor como Joana e Susana, mulheres que deixaram o mal e seguiram o exemplo da dulcíssima Maria, mãe de Jesus, filha de São Joaquim e de Santa Ana, a que concebeu sem mácula de pecado. Maria Madalena, arrepende-te dos erros e dos vícios da carne, entra no rebanho do Senhor e salva a tua alma do fogo do Inferno, dos martírios de Belzebu e dos seus malignos apaniguados. Abre os olhos, fêmea impura, escrava da fornicação, pelo amor de Nosso Senhor abre os olhos, que o pior cego é aquele que não quer ver. Vai com a graça de Deus, mulher, e como satisfação penitencial reza cem pais-nossos e cem ave-marias, queima uma vela no altar de Nossa Senhora Auxiliadora. Eu te absolvo dos teus pecados.
II
Maria Madalena, viúva de quarenta anos, sem filhos, alugadora de quartos a estudantes do Instituto Politécnico, trazia sete aboletados em sua casa: um de contabilidade, outro de electrotecnia, dois de engenharia mecânica, e três de enfermagem, embora estes, por razões que adiante se compreenderão, não fossem vistos nem achados no progresso do emaranhado caso de que se ocupa o presente escrito.
Todos os sete estudantes que estanciavam em casa de Maria Madalena faziam-no em regime de dormida simples, o que quer dizer, sem refeições e tratamento de roupas, embora, em boa verdade, as dormidas proporcionadas pela diligente hospedeira fossem tudo menos simples, como desde cedo foi do domínio público e a descrição destes insólitos sucessos se encarregará de evidenciar.
Numa cidade de província tudo se sabe, nada se esconde: as notícias espalham-se pelas ruas e tabernas, pelos jardins e adros das igrejas, ninguém fica indiferente à sua viscosa propagação.
III
O auto de averiguações foi mandado abrir pelos Serviços Sociais Escolares: coisa de inquiridores, inquiridos, testemunhas e escrivão do auto, todos nomeados em ordem de serviço com a assinatura de quem para tal tinha autoridade. É que a casa de Maria Madalena, como outras casas da cidade, funcionava como extensão da residência social escolar para estudantes economicamente desfavorecidos, por esta ter esgotado, há muito, a capacidade de oferta de alojamentos.
Apuraram os inquiridores, logo que se lançaram no seu árduo trabalho, que em vez de dormidas singelas, em honestas camas de solteiros, de lençóis limpos e acolhedores edredões, o ideal para repor as forças e motivar os estudos, adquirir os saberes e alcançar as almejadas formaturas, eram servidos os estudantes com prestações extraordinárias, cómodos não contratados, benesses que só o poderiam ser em certo sentido muito fora da moral vigente e do senso comum das pessoas de bem.
O escrivão do auto, um funcionário minucioso à beira da reforma por limite de idade, encarregou-se de lavrar nas folhas de papel azul de vinte e cinco linhas, com inexcedível zelo, todos os factos e ocorrências resultantes das inquirições.
IV
Aos tantos dias do mês tal do ano tal, nesta cidade de, na casa de hóspedes conhecida pelo nome de Casa de Maria Madalena, sita na Rua dos Prazeres, número dez, primeiro andar, onde há três quartos cedidos aos Serviços Sociais Escolares deste conceituado Instituto Politécnico, alojando-se neles, em regime de dormida simples, por carência de rendimentos dos respectivos agregados familiares, conforme processos tempestivamente apresentados ao Excelentíssimo Senhor Director e oportunamente deferidos em conformidade, os estudantes tais e tais, dos cursos tais e tais, foi feita a vistoria das instalações e inquirida a citada Maria de Magdala, digo, Maria Madalena, viúva, de quarenta anos, natural da freguesia dos Mártires desta cidade. Às perguntas formuladas pelos senhores inquiridores sobre a matéria em apreço, declarou ter partilhado a sua cama com alguns dos estudantes ali alojados, dormindo com eles, e tendo apresentado como justificação para o insólito comportamento o desejo de proporcionar maior comodidade aos jovens instalados na sua casa, visto que todos os outros quartos, à excepção do seu, estão virados a norte, sendo muito permeáveis aos frios da madrugada. Mais declarou que sempre o fizera como de mãe para filho, movida por desejo de servir e vontade de minorar o desconforto de jovens que se encontram apartados das suas famílias.
Ouvidos os estudantes de contabilidade, electrotecnia e engenharia mecânica, todos confirmaram terem dormido várias noites acompanhados da citada Maria Madalena pelas mesmas razões que a hospedeira aduziu, não sendo capazes de precisar dias, ou melhor, noites em que tal ocorreu, e salientando que mesmo que lhes chamassem nomes, daqueles que pudessem ofendê-los na sua virilidade, não deixariam de garantir não os ter movido qualquer fogosidade lúbrica ou desejo de tirarem prazer sexual de uma senhora com idade para ser sua progenitora, pessoa que sempre respeitaram como os bons filhos respeitam a mãe de família.
Ouvidos em seguida os três estudantes de enfermagem, todos disseram não saber de nada nem nunca terem visto nada, e que sempre dormiram nas suas camas individuais, não precisando de dormir acompanhados da sua hospedeira, pessoa que estimam, se não como mãe pelo menos como tia ou prima em segundo grau, pois frequentando uma turma com cerca de trinta candidatas a enfermeiras, encontrariam aí, sempre que precisassem, um campo mais fecundo e entusiasmante para satisfação daquelas subentendidas necessidades, matéria que foi declarada espontaneamente pelos inquiridos e deverá, segundo o nosso modesto entender, ser objecto de uma completa averiguação junto da área escolar do referido curso de enfermagem, para salvaguarda do bom nome e imagem moral da classe sócio-profissional das enfermeiras, a qual, por dizeres como este e famas de não comprovado proveito é tradicionalmente lançada nas ruas da amargura pelo vulgo ignaro.
Ouvida na mesma data, mas já na sede destes serviços, a testemunha Maria das Dores, empregada de limpeza, que cumpria serviço entre as oito e as onze da manhã, fazendo camas e lavando o chão dos quartos e das casas de banho, se apurou e, como tal, fica exarado, para que seja dado o atinente seguimento processual, os factos e ocorrências que se passam a indicar. Ponto um: que a proprietária da casa não só proporcionava roupa limpa de cama e colchões de qualidade aceitável, como aquecimento nos quartos e adequado isolamento das frinchas das portas e janelas, não se tendo provado que os quartos fossem frios e que por isso os estudantes implicados tivessem de ir granjear brasido no quarto da Maria Madalena. Ponto dois: que várias vezes foi visto pela supracitada Maria da Dores, ao entrar ao serviço, estudantes a dormirem na cama com a hospedeira, e que pelo menos em uma vez, numa manhã do mês de Dezembro cujo dia não sabe indicar, até estavam dois deitados com ela. Ponto três: que a Maria Madalena sempre dissera à empregada de limpeza para não falar no assunto a ninguém, para não lhe estragarem a vida, mas que a serviçal achara conveniente não se calar por se aperceber que os pobres rapazes estavam a afundar-se nos seus estudos com a ilusão dos deleites que diariamente, ou melhor dizendo, nocturnamente lhes eram proporcionados pela hospedeira com grave prejuízo da sua formação moral e pesado dano para as famílias que se sacrificam para lhes pagarem os estudos. E mais não se apurou.
Inquirida ainda uma segunda testemunha, aos tantos dias do mês tal do mesmo ano, de nome Teresinha do Espírito Santo, doméstica, moradora no andar inferior ao da Maria Madalena, dormindo com o seu legítimo esposo, funcionário da repartição de finanças, em quarto situado por baixo do da hospedeira já inquirida, declarou ter ouvido durante várias noites estrepitosos exercícios de cama com grande cópia de gemidos de fêmea e resfôlegos de machos, situação possível devido à má qualidade da construção que não dispõe de placa entre os pisos com a espessura e isolamento exigidos por lei, o que muito a incomodou, a ela e ao seu digníssimo esposo, pessoa nada dada a desconcertos de tão vil natureza, e que muito o prejudicaram, pela falta de descanso, no cumprimento dos seus deveres laborais.
E assim foram inquiridos e ouvidos todos os implicados e testemunhas arroladas.
Termos em que são dados como provados os factos e ocorrências chegados ao conhecimento destes Serviços Sociais Escolares, e que determinaram a abertura do presente auto de averiguações, demonstrando-se que a casa da Maria Madalena não reúne as condições necessárias para albergar os jovens do Instituto Politécnico ali residentes, devendo os mesmos ser repartidos por outras unidades de acolhimento e cessar por cumprimento defeituoso o contrato estabelecido entre estes Serviços e a citada hospedeira.
No entanto, o Excelentíssimo Senhor Director do Instituto Politécnico, fazendo uso do seu alto critério, decidirá como melhor entender.
Aos tantos dias do mês tal, ano tal, neste Instituto e cidade de.
Os inquiridores, Fulano e Beltrano. O escrivão do auto, Sicrano.
V
Maria Madalena, minha filha, condenou-te a lei dos homens, mas os teus pecados já haviam sido perdoados pela justiça de Deus. Também pecou a irmã de Lázaro e de Marta, e não foi por isso que deixou de ungir os pés do Senhor com perfumes de nardo, enxugando-os com beijos de arrependimento e a seda dos seus cabelos.
Agora que te não permitem receber hóspedes, sejamos piedosos com a tua situação. Peço-te que, para não ficares privada do santo pão de cada dia, para que te não falte o sustento, aceites servir como governanta na residência dos senhores padres da Sé.
Sabes bem, minha filha, como são penosos os ofícios divinos. Se algum senhor padre chegar cansado e com sede, sê como a Samaritana quando encontrou Jesus junto ao poço de Jacob: dá-lhe de beber, que é a tua sede que sacias com a água viva da salvação. Se algum senhor padre chegar com fome, desejoso de comer, trata-o com atenção e afecto, pois é o pão que sustenta para sempre que tu mesma estás a comer.
Ama-os e segue-os, como as santas mulheres amaram e seguiram o Nazareno.
Cuida deles como se fossem de tua própria casa e nunca te arrependas do bem que fizeres em nome da obra do Senhor. Ámen.
D.E.
Maria Madalena, és pecadora, mais pecadora do que a outra naquele tempo em que o Redentor andava pelos caminhos da Galileia, pelas margens do lago Tiberíades, em Genesaré e Cafarnaúm, a anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus. Essa desgraçada de quem saíram, de uma só vez, sete demónios que lhe comiam o espírito e envileciam o corpo, antes de se tornar pura e serva do Senhor como Joana e Susana, mulheres que deixaram o mal e seguiram o exemplo da dulcíssima Maria, mãe de Jesus, filha de São Joaquim e de Santa Ana, a que concebeu sem mácula de pecado. Maria Madalena, arrepende-te dos erros e dos vícios da carne, entra no rebanho do Senhor e salva a tua alma do fogo do Inferno, dos martírios de Belzebu e dos seus malignos apaniguados. Abre os olhos, fêmea impura, escrava da fornicação, pelo amor de Nosso Senhor abre os olhos, que o pior cego é aquele que não quer ver. Vai com a graça de Deus, mulher, e como satisfação penitencial reza cem pais-nossos e cem ave-marias, queima uma vela no altar de Nossa Senhora Auxiliadora. Eu te absolvo dos teus pecados.
II
Maria Madalena, viúva de quarenta anos, sem filhos, alugadora de quartos a estudantes do Instituto Politécnico, trazia sete aboletados em sua casa: um de contabilidade, outro de electrotecnia, dois de engenharia mecânica, e três de enfermagem, embora estes, por razões que adiante se compreenderão, não fossem vistos nem achados no progresso do emaranhado caso de que se ocupa o presente escrito.
Todos os sete estudantes que estanciavam em casa de Maria Madalena faziam-no em regime de dormida simples, o que quer dizer, sem refeições e tratamento de roupas, embora, em boa verdade, as dormidas proporcionadas pela diligente hospedeira fossem tudo menos simples, como desde cedo foi do domínio público e a descrição destes insólitos sucessos se encarregará de evidenciar.
Numa cidade de província tudo se sabe, nada se esconde: as notícias espalham-se pelas ruas e tabernas, pelos jardins e adros das igrejas, ninguém fica indiferente à sua viscosa propagação.
III
O auto de averiguações foi mandado abrir pelos Serviços Sociais Escolares: coisa de inquiridores, inquiridos, testemunhas e escrivão do auto, todos nomeados em ordem de serviço com a assinatura de quem para tal tinha autoridade. É que a casa de Maria Madalena, como outras casas da cidade, funcionava como extensão da residência social escolar para estudantes economicamente desfavorecidos, por esta ter esgotado, há muito, a capacidade de oferta de alojamentos.
Apuraram os inquiridores, logo que se lançaram no seu árduo trabalho, que em vez de dormidas singelas, em honestas camas de solteiros, de lençóis limpos e acolhedores edredões, o ideal para repor as forças e motivar os estudos, adquirir os saberes e alcançar as almejadas formaturas, eram servidos os estudantes com prestações extraordinárias, cómodos não contratados, benesses que só o poderiam ser em certo sentido muito fora da moral vigente e do senso comum das pessoas de bem.
O escrivão do auto, um funcionário minucioso à beira da reforma por limite de idade, encarregou-se de lavrar nas folhas de papel azul de vinte e cinco linhas, com inexcedível zelo, todos os factos e ocorrências resultantes das inquirições.
IV
Aos tantos dias do mês tal do ano tal, nesta cidade de, na casa de hóspedes conhecida pelo nome de Casa de Maria Madalena, sita na Rua dos Prazeres, número dez, primeiro andar, onde há três quartos cedidos aos Serviços Sociais Escolares deste conceituado Instituto Politécnico, alojando-se neles, em regime de dormida simples, por carência de rendimentos dos respectivos agregados familiares, conforme processos tempestivamente apresentados ao Excelentíssimo Senhor Director e oportunamente deferidos em conformidade, os estudantes tais e tais, dos cursos tais e tais, foi feita a vistoria das instalações e inquirida a citada Maria de Magdala, digo, Maria Madalena, viúva, de quarenta anos, natural da freguesia dos Mártires desta cidade. Às perguntas formuladas pelos senhores inquiridores sobre a matéria em apreço, declarou ter partilhado a sua cama com alguns dos estudantes ali alojados, dormindo com eles, e tendo apresentado como justificação para o insólito comportamento o desejo de proporcionar maior comodidade aos jovens instalados na sua casa, visto que todos os outros quartos, à excepção do seu, estão virados a norte, sendo muito permeáveis aos frios da madrugada. Mais declarou que sempre o fizera como de mãe para filho, movida por desejo de servir e vontade de minorar o desconforto de jovens que se encontram apartados das suas famílias.
Ouvidos os estudantes de contabilidade, electrotecnia e engenharia mecânica, todos confirmaram terem dormido várias noites acompanhados da citada Maria Madalena pelas mesmas razões que a hospedeira aduziu, não sendo capazes de precisar dias, ou melhor, noites em que tal ocorreu, e salientando que mesmo que lhes chamassem nomes, daqueles que pudessem ofendê-los na sua virilidade, não deixariam de garantir não os ter movido qualquer fogosidade lúbrica ou desejo de tirarem prazer sexual de uma senhora com idade para ser sua progenitora, pessoa que sempre respeitaram como os bons filhos respeitam a mãe de família.
Ouvidos em seguida os três estudantes de enfermagem, todos disseram não saber de nada nem nunca terem visto nada, e que sempre dormiram nas suas camas individuais, não precisando de dormir acompanhados da sua hospedeira, pessoa que estimam, se não como mãe pelo menos como tia ou prima em segundo grau, pois frequentando uma turma com cerca de trinta candidatas a enfermeiras, encontrariam aí, sempre que precisassem, um campo mais fecundo e entusiasmante para satisfação daquelas subentendidas necessidades, matéria que foi declarada espontaneamente pelos inquiridos e deverá, segundo o nosso modesto entender, ser objecto de uma completa averiguação junto da área escolar do referido curso de enfermagem, para salvaguarda do bom nome e imagem moral da classe sócio-profissional das enfermeiras, a qual, por dizeres como este e famas de não comprovado proveito é tradicionalmente lançada nas ruas da amargura pelo vulgo ignaro.
Ouvida na mesma data, mas já na sede destes serviços, a testemunha Maria das Dores, empregada de limpeza, que cumpria serviço entre as oito e as onze da manhã, fazendo camas e lavando o chão dos quartos e das casas de banho, se apurou e, como tal, fica exarado, para que seja dado o atinente seguimento processual, os factos e ocorrências que se passam a indicar. Ponto um: que a proprietária da casa não só proporcionava roupa limpa de cama e colchões de qualidade aceitável, como aquecimento nos quartos e adequado isolamento das frinchas das portas e janelas, não se tendo provado que os quartos fossem frios e que por isso os estudantes implicados tivessem de ir granjear brasido no quarto da Maria Madalena. Ponto dois: que várias vezes foi visto pela supracitada Maria da Dores, ao entrar ao serviço, estudantes a dormirem na cama com a hospedeira, e que pelo menos em uma vez, numa manhã do mês de Dezembro cujo dia não sabe indicar, até estavam dois deitados com ela. Ponto três: que a Maria Madalena sempre dissera à empregada de limpeza para não falar no assunto a ninguém, para não lhe estragarem a vida, mas que a serviçal achara conveniente não se calar por se aperceber que os pobres rapazes estavam a afundar-se nos seus estudos com a ilusão dos deleites que diariamente, ou melhor dizendo, nocturnamente lhes eram proporcionados pela hospedeira com grave prejuízo da sua formação moral e pesado dano para as famílias que se sacrificam para lhes pagarem os estudos. E mais não se apurou.
Inquirida ainda uma segunda testemunha, aos tantos dias do mês tal do mesmo ano, de nome Teresinha do Espírito Santo, doméstica, moradora no andar inferior ao da Maria Madalena, dormindo com o seu legítimo esposo, funcionário da repartição de finanças, em quarto situado por baixo do da hospedeira já inquirida, declarou ter ouvido durante várias noites estrepitosos exercícios de cama com grande cópia de gemidos de fêmea e resfôlegos de machos, situação possível devido à má qualidade da construção que não dispõe de placa entre os pisos com a espessura e isolamento exigidos por lei, o que muito a incomodou, a ela e ao seu digníssimo esposo, pessoa nada dada a desconcertos de tão vil natureza, e que muito o prejudicaram, pela falta de descanso, no cumprimento dos seus deveres laborais.
E assim foram inquiridos e ouvidos todos os implicados e testemunhas arroladas.
Termos em que são dados como provados os factos e ocorrências chegados ao conhecimento destes Serviços Sociais Escolares, e que determinaram a abertura do presente auto de averiguações, demonstrando-se que a casa da Maria Madalena não reúne as condições necessárias para albergar os jovens do Instituto Politécnico ali residentes, devendo os mesmos ser repartidos por outras unidades de acolhimento e cessar por cumprimento defeituoso o contrato estabelecido entre estes Serviços e a citada hospedeira.
No entanto, o Excelentíssimo Senhor Director do Instituto Politécnico, fazendo uso do seu alto critério, decidirá como melhor entender.
Aos tantos dias do mês tal, ano tal, neste Instituto e cidade de.
Os inquiridores, Fulano e Beltrano. O escrivão do auto, Sicrano.
V
Maria Madalena, minha filha, condenou-te a lei dos homens, mas os teus pecados já haviam sido perdoados pela justiça de Deus. Também pecou a irmã de Lázaro e de Marta, e não foi por isso que deixou de ungir os pés do Senhor com perfumes de nardo, enxugando-os com beijos de arrependimento e a seda dos seus cabelos.
Agora que te não permitem receber hóspedes, sejamos piedosos com a tua situação. Peço-te que, para não ficares privada do santo pão de cada dia, para que te não falte o sustento, aceites servir como governanta na residência dos senhores padres da Sé.
Sabes bem, minha filha, como são penosos os ofícios divinos. Se algum senhor padre chegar cansado e com sede, sê como a Samaritana quando encontrou Jesus junto ao poço de Jacob: dá-lhe de beber, que é a tua sede que sacias com a água viva da salvação. Se algum senhor padre chegar com fome, desejoso de comer, trata-o com atenção e afecto, pois é o pão que sustenta para sempre que tu mesma estás a comer.
Ama-os e segue-os, como as santas mulheres amaram e seguiram o Nazareno.
Cuida deles como se fossem de tua própria casa e nunca te arrependas do bem que fizeres em nome da obra do Senhor. Ámen.
D.E.
1 comentário:
gostei. o seu comentário é de quem sabe ler. obrigada
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