segunda-feira, agosto 17, 2020

FESTA DO AVANTE!

A imagem do cartaz é quase bucólica. Umas poucas pessoas sentadas tranquilamente sob os pinheiros, comendo e conversando, como se estivessem num parque de merendas em pleno campo. A Festa não é isto, logo, o cartaz é um engano, um artifício para iludir os censores.
Em outros tempos, a imprensa neo-realista inventou a palavra diamática para se referir a “materialismo dialéctico”. E usava a perífrase “um grande pensador do século XIX” quando queria citar Karl Marx. Eram artifícios para contrariar a lei da mordaça. De certa maneira, o cartaz da Festa cumpre desígnios paralelos.
A Quinta da Atalaia e a do Cabo da Marinha perfazem 30 hectares, área correspondente a 30 campos de futebol, desses que levam 50 000 espectadores. Sendo esperados até 33 000 visitantes por dia, temos cerca de 9 m2 por pessoa. Parece seguro, se não se tiver em conta que os visitantes não se distribuem de modo regular por todo o espaço, mas antes se concentram nos locais dos eventos, nas tendas de comes e bebes, nos pavilhões, no comício, etc. Como o cartaz, esta engenharia de números é um artifício.
Então seria melhor não se fazer a Festa, aceitando como bom o coro de políticos e comentadores que vai nesse sentido? Julgo que não. Precisamos de descartar o conformismo e ir dando pontapés no medo. Como disse Jerónimo de Sousa, a Festa faz-se para dar «um sinal de esperança e de convivência em segurança». É claro que também há os objectivos financeiros, é escusado negá-lo, mas o que gostaria de reter é esta ideia de um sinal de esperança.
Que ele seja visível e a segurança não falte. Por mim, até sou capaz de ir este ano à Festa do Avante!.      
     

2 comentários:

R. disse...

Também gostava de lá ir este ano, mas tenho de aproveitar o Guincho...

Manuel Nunes disse...

O Guincho já é uma festa...