terça-feira, abril 09, 2019

AS CASAS, A VIDA

Foto de Março deste ano. Na zona escura, a mancha branca do canto inferior direito é a casa alpendrada mandada construir pelo meu avô há cem anos. Ali nasceram filhas e filhos, um rancho de gente criado entre afectos e o duro trabalho da terra. Havia vinha e olival, horta, árvores de fruto e animais de criação. Os anos passaram, não cheguei a conhecer o meu avô e os familiares que conheci morreram todos, ou quase todos. Ao fim do dia, quando o tempo está de feição, as nuvens tingem-se das melhores cores do sol. E a casa fica de um branco mais vivo, como um facho desafiador dos recessos da noite. Velha e solitária, não sei quanto tempo durará ainda a velha casa alpendrada. Mas dure quanto durar, não creio poder sobreviver-lhe. Apesar dos sofrimentos por que passam, as casas são sempre as últimas a morrer. E quando não são, dificilmente morrem no coração dos homens que as conheceram e amaram. 
Como diz o poema de Ruy Belo,
«Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas»
 

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