domingo, abril 12, 2015

ESTAR OU NÃO ESTAR NUMA RELAÇÃO


As ligações afectivas mais ou menos duradouras são por vezes designadas, nas redes sociais da Internet, por esta expressão singular: “estar numa relação”. A princípio era o precariado juvenil que se servia dela, mas ultimamente tem vindo a estender-se a outros estratos etários, alguns de pessoas de razoável nível social e cultural.
Um professor universitário apresenta no seu perfil da rede social facebook um dado curioso: «Numa relação desde Janeiro de 2015».
“Estar” numa relação não é o mesmo que “ter” uma relação, porque a diferença entre ter e estar exprime um sinal de precariedade característico da sociedade moderna em que vivemos, uma sociedade de “corrosão do carácter”, como foi assinalado pelo sociólogo Richard Sennett.
Quando “estiver” numa nova relação, o dito professor indicará provavelmente “desde Agosto de 2015” ou “desde Fevereiro de 2016”, fixando assim o curso temporal e a transitoriedade dos seus afectos. Hoje, e cada vez mais, o que parece corresponder às aspirações de muitos não são  relações que se desejem duradouramente boas, mas, simplesmente, que sejam boas enquanto durarem.
“Estar numa relação” é uma coisa tão moderna que não nos vemos a dizer de Franz Kafka que esteve numa relação com Felice Bauer ou Milena Jesenská. E o mesmo de Garrett com a Viscondessa da Luz.
“Estar numa relação” é, portanto, matéria de Sandras Vanessas e Alexes Romeus, miudagem dos nossos dias, mas também de alguns senhores e senhoras com nomes antigos e idades para serem vovós.
Cá por mim, que sou mais antigo que moderno, ainda vou preferindo o “ter” ao “estar”. Mas isso,  dirão os meus amigos e eu humildemente aceito, são manias de quem quer ser diferente e, afinal, não deixa de ser igual aos demais.  

2 comentários:

Joca disse...

My friend, move to British words: to be or not to be, ...it's the question :) :)

Manuel Nunes disse...

Estar ou não estar, mas antes estar ou ter. O to be or not to be não colhe, Hamlet não é para aqui chamado. Felizmente.