A situação descrita no texto de Eça de Queirós não está longe da que hoje se vive no nosso país. De quem é a culpa? Há seis meses era, segundo a maioria dos portugueses, de um mau governo e de excessos por ele cometidos. O mau governo foi-se embora, mas os sacrifícios exagerados que o mesmo pedia – e que, recorde-se, foram recusados por todos os partidos da oposição, do CDS ao BE – são hoje maiores e de mais desigual incidência do que aqueles que então pretendiam impor-nos.
A hipocrisia política refugia-se agora na crise internacional, na acção dos mercados e na necessidade de o governo implementar reformas para salvar o país, ou seja, cumprir as regras severas que nos foram ditadas com vista não a garantir o desenvolvimento económico ou a retoma do emprego, mas para que os credores possam ter o seu dinheiro de volta, com juros, dentro do prazo combinado.
Penso não haver dúvida de que estamos sob ocupação estrangeira – daí ter chamado Eça e A Catástrofe à colação –, governados por um ministério colaboracionista, de certa forma semelhante ao de Vichy em França durante a Grande Guerra.
É o estado de necessidade, dirão, como na França de 1940. É verdade, mas não foi por isso que deixou de aparecer De Gaulle e a luta da Resistência. Então era o poder militar alemão, agora é o poder económico dos mercados e, de novo, o poder da Alemanha, já não militar, simplesmente económico e político, querendo manter uma moeda forte e uma liderança acéfala contra os interesses da maioria dos povos da Europa.
As medidas que estão a ser tomadas e as que ainda acabarão por chegar configuram a catástrofe queirosiana. O país perdeu a independência e não creio que a retome tão cedo, a não ser que haja um golpe de conjurados como o de 1640.
É por isso que sou pela greve geral de amanhã. Sei que no imediato não vai resolver nada e, provavelmente, até agravará os sacrifícios por que estão a passar as classes mais desfavorecidas. Compreendo que muitos irão trabalhar com medo de represálias ou por não poderem dar-se ao luxo de perder um dia de salário. Compreendo isso e também a posição dos que, apesar de tudo, não deixarão calar a revolta . Quando se dá um murro de desagravo na cara de alguém há sempre o risco de se partir os dedos. Porém, não é por tão pouco que se deve ficar de mãos nos bolsos.
A hipocrisia política refugia-se agora na crise internacional, na acção dos mercados e na necessidade de o governo implementar reformas para salvar o país, ou seja, cumprir as regras severas que nos foram ditadas com vista não a garantir o desenvolvimento económico ou a retoma do emprego, mas para que os credores possam ter o seu dinheiro de volta, com juros, dentro do prazo combinado.
Penso não haver dúvida de que estamos sob ocupação estrangeira – daí ter chamado Eça e A Catástrofe à colação –, governados por um ministério colaboracionista, de certa forma semelhante ao de Vichy em França durante a Grande Guerra.
É o estado de necessidade, dirão, como na França de 1940. É verdade, mas não foi por isso que deixou de aparecer De Gaulle e a luta da Resistência. Então era o poder militar alemão, agora é o poder económico dos mercados e, de novo, o poder da Alemanha, já não militar, simplesmente económico e político, querendo manter uma moeda forte e uma liderança acéfala contra os interesses da maioria dos povos da Europa.
As medidas que estão a ser tomadas e as que ainda acabarão por chegar configuram a catástrofe queirosiana. O país perdeu a independência e não creio que a retome tão cedo, a não ser que haja um golpe de conjurados como o de 1640.
É por isso que sou pela greve geral de amanhã. Sei que no imediato não vai resolver nada e, provavelmente, até agravará os sacrifícios por que estão a passar as classes mais desfavorecidas. Compreendo que muitos irão trabalhar com medo de represálias ou por não poderem dar-se ao luxo de perder um dia de salário. Compreendo isso e também a posição dos que, apesar de tudo, não deixarão calar a revolta . Quando se dá um murro de desagravo na cara de alguém há sempre o risco de se partir os dedos. Porém, não é por tão pouco que se deve ficar de mãos nos bolsos.
2 comentários:
Suponho que A Catástrofe (novela pouco seleccionada, vá lá saber-se porquê...)foi escrita por Eça antes da crise portuguesa de 1892. Nessa altura estava ele como consul em Paris e não sei de que forma poderá ter participado do transe criado a partir da decisão do governo pela recusa da ajuda externa, pela bancarrota interna e suas consequências, pelo isolamento nacional, etc, precisamente para não aceitar o regime da austeridade que a continuidade da dependênca europeia ixigiria. Tudo isto em nome da preservação da soberania nacional. Uma opção que nos marcou até ao 25 de Abril, diz Rui Ramos, numa entrevista ao Público de 23 de Novembro, a propósito do paralelo que estabelece entre as condições daquela crise e a actual. Que há-de vir a ser conhecida na história como a crise de 2011? Uma diferença que desde logo noto é que desta vez não têm o bode expiatório da monarquia com o seu despesismo e má gestão financeira do Estado... Pois é o próprio Estado que está em causa, ou serão outras coisas que ainda não estamos a ver?
Maria Amélia:
Conheço mal a genética de "A Catástrofe", mas sei que é o que sobrou de uma obra que o Eça resolveu abandonar, "A Batalha do Caia", e cujo processo editorial (falhado) não ilustra muito o grande mestre do nosso Realismo. Ouvi falar disto a uma queirosiana brasileira de uma das vezes que estive no Douro, aboletado naquela pousada que tanto te impressionou.
Quanto à crise de 2011, digo isso no texto, felizmente que há agora uma outra consciência, que identifica a questão com a crise internacional (melhor, com a crise da construção da Europa), ao contrário da ideia dominante de há seis meses, em que a crise que vivíamos era apenas o resultado de uma má gestão interna.
Enfim, são temas que não dão para uma conversa de blogue. Malhas que a politiquice tece...
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