sábado, setembro 20, 2008

A IMPERTINÊNCIA DE SENTIR ( IX )

Ignorante da vida e quase ignorante das letras, quase sem convívio nem cultura – assim dispunha Ricardo Reis sobre o autor no prefácio aos poemas de Alberto Caeiro, poeta das sensações que teria repugnado a religião e a metafísica, descobrindo o mundo sem precisar de pensar nele.
Porém, esta personagem quase sem cultura lia o livro de Cesário Verde até lhe arderem os olhos (poema III de O Guardador de Rebanhos), sabia dos cantos literários dos pastores de Virgílio (poema XII do mesmo livro) e numa entrevista supostamente dada em Vigo criticava Junqueiro e Pascoaes e chamava idiota a Verhaeren.
O que mais se encontra nos escritos de Alberto Caeiro é pensamento puro, filosofia. Uma complexidade que não se conforma com a simplicidade e a espontaneidade anunciadas. Paradoxos fascinantes do drama em gente pessoano.

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