Ele conhecia os americanos. Em 1873, sob pretexto das febres de Verão nas Antilhas - era então cônsul em Havana -, Eça viajou para o Canadá, Estados Unidos e América Central com autorização do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Parece que as razões fundamentais para a viagem não eram as febres nem os americanos, mas duas americanas que conhecera em Cuba: Mollie Bidwell e Ana Conover.
A verdade é que o seu apetite pelo estudo dos homens e das sociedades permitiu-lhe identificar três tipos de americanos que são objecto de um pequeno artigo: o dos estados do Sul, da Carolina ou da Luisiana; o do Norte, «grosso, vermelho, forte» que «leva em si todo o orgulho da América»; e o do Canadá, «raça que pretende ter teorias». Desconheço em que periódico e data foi publicado o artigo, não o diz a minha edição das Notas Contemporâneas, décimo quinto volume das Obras Completas editado em 1981 pelo Círculo de Leitores. Mas diz, sim, da prosa certeira e do remate fabuloso da crónica:
«Três são. Uma coisa têm em comum - a individualidade, o myself. Eu mesmo, eu cidadão americano, de resto nada. Outro ponto de contacto: nunca se espreguiçam. De resto, com toda a sua civilização, a sua riqueza, o seu ouro, o seu myself, o seu ruído sobre o planeta, a sua intimidade com Deus, não seriam capazes, todos juntos, desde o Canadá até Filadélfia, desde o presidente Grant até ao Negro, que agora geme atrelado ao algodão, de fazer um verso de Musset, ou um desenho de Delacroix. E têm outra desgraça: assoam-se muito.
De resto, magníficos.»
Acho que Eça tinha razão. Não em tudo, mas em quase tudo.
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