quinta-feira, dezembro 31, 2020

NO SAPATINHO 4

Posto diferidamente no sapatinho. Livro em torno das comemorações dos 100 anos de vida literária de Ferreira de Castro. Traz as conferências de Outubro de 2016 na Fundação Engº António de Almeida: de Pedro Calheiros, Isabel Ponce de Leão, Paulo Samuel, António dos Santos Pereira e Célia Pinho. E em extratexto – o que não é coisa menor –, fac-símile dos seis números de A Hora: revista-panfleto de arte, actualidades e questões sociais, fundada em 1922 pelo romancista de Ossela. 
 

quarta-feira, dezembro 30, 2020

NO SAPATINHO 3

Esta prenda fui eu mesmo que a pus no sapatinho. Metido nos caminhos da ecocrítica a predicar sobre a paisagem em Amiel e Bernardo Soares, socorri-me deste simpático livrinho. Diz a autora na p. 25: «O único padrão que se pode discernir das actuais definições da ecocrítica é o destaque que nelas é dado às relações entre a literatura e o meio ambiente e o objectivo de promover a síntese quer da crítica literária com as ciências naturais, quer dos estudos literários com a filosofia do meio ambiente.» Vamos lá a ver se não me chamusco com o fogo ateado.

terça-feira, dezembro 29, 2020

NO SAPATINHO 2

Foi o primeiro livro de Dostoiévski que li. Há décadas, em exemplar requisitado nas bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian. Ideia de Branquinho da Fonseca - a destas bibliotecas -, que replicou na Fundação a experiência levada a cabo na Biblioteca-Museu Conde Castro Guimarães, Cascais, onde foi conservador e bibliotecário. Dentro de dias, assim espero, volto ao estranho mundo do estudante Raskólnikov.

segunda-feira, dezembro 28, 2020

NO SAPATINHO 1

Uma antologia poética sobre o corpo – nossa habitação permanente –  campo do desejo e invólucro da alma. Vai de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) a Golgona Anghel (1979).

Detenho-me em Ana  Hatherly (1929-2015), poema “Leonorama-Variação VII”:

descalça ia leonor. ia àfonte leda efria.

ia lesta &ia. afonte corria. leonorapenasia.

pela aragem fria. pela manhãia. sorria.   &ia.

leonoria. leonorama leonoria. anaía bela.   &ia.

(…)

E em Jorge Sousa Braga (1957), poema “Strip-tease”:

Quanto mais me dispo

menos nu

me sinto


domingo, dezembro 27, 2020

CAMINHADAS

Uma garça-real no trilho da Verdelha entre Póvoa de Santa Iria e Alverca do Ribatejo. Deixou-se fotografar a uma distância segura e depois voou. 
--- Ardea cinerea, ave ciconiiforme de grande porte, da família dos Ardeídeos, comum em Portugal, tem pernas e pescoço longo, atingindo perto de um metro de altura e apresenta bico grande e afilado e plumagem acinzentada, com faixa supraciliar negra (Infopédia).
=Fotos de 27-12-2020=


terça-feira, dezembro 22, 2020

O Natal em TO KILL A MOCKINGBIRD, livro

 MARY BADHAM como Scout Finch no filme (1962) de Robert Mulligan

O Natal na plantação Finch (capítulo 9) foi uma grande seca para Scout, não obstante os bons cozinhados da tia Alexandra. Por causa de ter falado de Atticus como um «amigalhaço dos pretos», o primo Francis foi esmurrado pela menina, tendo esta esfolado os nós dos dedos contra os dentes do desbocado.

Prendas de Natal para Scout e Jem: espingardas de pressão de ar, conforme pedido dos interessados.

Mas Atticus avisou a filha (capítulo 10): «Podes matar todos os gaios-azuis que encontrares, isto se lhes conseguires acertar, mas lembra-te de que é pecado matar uma cotovia.» Miss Maudie, em diálogo posterior, corroborou: «O teu pai tem razão. As cotovias não fazem nada a não ser cantar belas melodias para nós. Não estragam os jardins das pessoas, não fazem ninhos nos espigueiros, só sabem cantar com todo o sentimento para nós. É por isso que é pecado matar uma cotovia


segunda-feira, dezembro 21, 2020

NATAL NA PLANTAÇÃO FINCH

«Não havia suspiros suficientes que levassem o Atticus a deixar-nos passar o dia de Natal em casa. Desde que me lembro, que passávamos todos os Natais na plantação Finch. O facto de a tia ser uma boa cozinheira compensava o facto de ser obrigada a passar um feriado religioso com o Francis Hancock. Era um ano mais velho do que eu e, regra geral, eu fazia tudo para o evitar: gostava de tudo o que eu desaprovava e detestava as minhas engenhosas brincadeiras.» 

O primo Francis recebeu pelo Natal aquilo que havia pedido: um par de calções, uma pasta para os livros em couro vermelho, cinco camisas e um laço. Scout e o irmão Jem tiveram umas espingardas de pressão de ar e um estojo de química a sério, não de brincar. Há as suas diferenças...

Com tanto tipo que, neste Natal, aparece na televisão e no twitter com palavreado reaça, apetece-me pedir à Scout que venha aí do Alabama profundo para lhes assentar uns bons pares de murros. Ela sabe como se faz.


sexta-feira, dezembro 11, 2020

EPISTOLÁRIO

52 cartas trocadas entre MÁRIO DIONÍSIO e JOAQUIM NAMORADO de 1940 a 1978. Leitura, apresentação e notas de ANTÓNIO PEDRO PITA. Co-edição CASA DA ACHADA/LÁPIS DE MEMÓRIAS. Foi hoje posto à venda e já tenho o meu exemplar. 

terça-feira, dezembro 08, 2020

DURANTE O "PASSEIO HIGIÉNICO"

Visto e fotografado hoje durante o meu “passeio higiénico” em período de limitação da circulação: texto afixado num poste de iluminação da cidade por entre anúncios de empresas de limpezas, desentupimentos e mudanças. Um bocado erodido, nem já se vê o nº de telefone do candidato a amoroso, o que será uma pena caso a conciliação não tenha chegado a dar-se.

É tocante a amplitude etária desejada: dos 21 aos 40 anos. Quais anúncios de jornal, quais “sites” de namoro! 

São coisas como esta que me fazem acreditar no amor.


domingo, dezembro 06, 2020

KAZUO ISHIGURO

Li e continuo a ler os dois primeiros romances de Kazuo Ishiguro: As Pálidas Colinas de Nagasáqui (1982) e Um Artista do Mundo Flutuante (1986). Um aspecto que salta à vista: o confronto entre os valores de duas sociedades nos anos do pós-guerra – os valores do Japão tradicional e os da sociedade emergente. Em ambos os livros, a atracção dos mais novos pela cultura americana, o “sonho americano” em versão nipónica. Sachiko, personagem do primeiro romance, falante do inglês por influência familiar, sonha em emigrar para a América, nação onde a filha poderia aspirar a ser uma mulher de negócios ou uma actriz de sucesso. Oji-san, narrador do segundo romance, surpreende o neto Ichiro a brincar aos cowboys, assumindo a personagem de Lone Ranger celebrizada pelo cinema e pela banda desenhada. O avô tradicionalista ainda lhe recomenda que se fixe nos heróis samurais de antanho, como Yoshitsune. Não resultou, o que o menino queria era mesmo o herói Lone Ranger, Hi yo, Silver!

terça-feira, dezembro 01, 2020

EDUARDO LOURENÇO (1923-2020)

Um texto polémico de Eduardo Lourenço surgiu em Junho de 1960 no suplemento Cultura e Arte do Comércio do Porto, sendo mais tarde integrado no volume Tempo e Poesia, da Gradiva. Título: “Presença ou a contra-revolução do modernismo”. A dicotomia revolução/contra-revolução do título seria atenuada em publicações posteriores com a aposição de um ponto de interrogação final. O ensaísta deixava de fazer uma afirmação categórica e levantava uma questão à qual o texto, porém, respondia pela positiva.

Diz Eduardo Lourenço que para se perceber a «distância fabulosa» entre objectos poéticos revolucionários e outros que o não são, basta comparar a “Saudação a Walt Withman” ou a “Ode Marítima” de Álvaro de Campos com o “Cântico Negro” de José Régio. Em apreciação, a oposição Orpheu / presença, revolução e contra-revolução. Diga-se porém que “Cântico Negro”, sendo o mais celebrado dos poemas de Régio é anterior à revista presença e, bem vistas as coisas, até não era um poema assim tão celebrado pelo seu autor.

Claro que, nestes termos, Eduardo Lourenço não aceita a designação de Segundo Modernismo para a geração presencista. A presença , diz, não é continuação, mas sim, e simultaneamente, reflexão e refracção do Modernismo.