SOEIRO PEREIRA GOMES, ÁLVARO GUERRA e ALVES REDOL num muro da ciclovia/caminho pedonal ribeirinho entre Alhandra e Vila Franca de Xira (foto de Agosto de 2015).
quinta-feira, janeiro 28, 2016
quarta-feira, janeiro 27, 2016
O ALEPH, DE BORGES
He visto, como el griego, las urbes de los hombres, / Los trabajos, los dias de varia luz, el hambre;/ No corrijo los hechos, no falseo los nombres,/ Pero el voyage que narro, es… autour de ma chambre.
--- Carlos Argentino Daneri
(personagem de “O ALEPH”) no Canto Augural do seu poema “A TERRA” ---
De que fala este conto? – Da inutilidade das viagens físicas e do
elogio das viagens interiores? – Talvez. Será o Aleph esse ponto interior de nós onde
tudo pode ser visto e sentido sem se sair do mesmo lugar? Lembro-me do que
disse aquele ajudante de guarda-livros dum escritório da Rua dos
Douradores. Mais ou menos isto: «Viaje com o corpo quem não souber viajar com a
alma.» Contra mim falo, mas não deixo de lhe dar razão.
terça-feira, janeiro 26, 2016
PRAIA DA AREIA BRANCA
Fotos de 24-1-2016 com poema de SIDÓNIO MURALHA (1920-1982), poeta do "Novo Cancioneiro" - manifestação colectiva da poesia neo-realista.
Na praia da Areia Branca
os búzios não falam só do mar
– falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar
os búzios não falam só do mar
– falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar
Búzios da praia da Areia Branca:
– um dia,
haveis de falar
unicamente do mar.
--- Do livro “Passagem de Nível”, 1942
– um dia,
haveis de falar
unicamente do mar.
--- Do livro “Passagem de Nível”, 1942
quinta-feira, janeiro 21, 2016
EL DORADO (1966), DE HOWARD HAWKS
Gaily bedight,
A gallant knight,
In sunshine and in shadow,
Had journeyed
long,
Singing a song,
In
search of Eldorado.
Primeira estrofe do poema "Eldorado", de Edgar Allan Poe, cujos versos são ditos por quatro vezes, ao longo do filme, pela personagem Mississipi (James Caan). Um western em que se subvertem alguns códigos do género: não é normal um vingador - fraco a disparar, mas exímio manobrador de facas - ter uma provisão de poesia no seu discurso; não é normal os heróis (Robert Mitchum, xerife, e John Wayne, ajudante) acabarem a aventura em estado lastimável, amparados em muletas, mais prontos para a reforma do que para continuarem a luta em prol da ordem. Passou hoje na Cinemateca.
Poema completo aqui:
terça-feira, janeiro 19, 2016
5 FRASES E 1 DÍSTICO
A política é uma forma de distribuir
dinheiro.
*
Ler não é agir.
*
A inteligente gente é zombeteira.
*
Nunca me arrependi de ter desistido.
*
Não se mandam cartas de amor
registadas.
*
ART POÉTIQUE
De
l´amour
avant
toute chose
– ADÍLIA LOPES, Dobra – Poesia Reunida.
segunda-feira, janeiro 18, 2016
DAVAM GRANDES PASSEIOS AOS DOMINGOS...
«Talvez um certo provincianismo cultural, e uma luta pelo hegemonismo cultural por parte dos neo-realistas, na segunda metade da década de 30 e princípios da de 40, expliquem a agudização da conflitualidade entre os dois movimentos [Neo-Ralismo / Presença]. Parece-nos, por exemplo, que uma novela belíssima como Davam Grandes Passeios aos Domingos (1941), de José Régio, onde o drama amoroso de Rosa Maria se articula magistralmente com os códigos socioculturais provincianos poderia caber perfeitamente no campo neo-realista.» -- VÍTOR VIÇOSO, A Narrativa no Movimento Neo-Realista. Algo em que nunca havia pensado, diga-se, na parte que respeita ao neo-realismo da novela.
domingo, janeiro 17, 2016
ALFAMA, FONTE DO POETA
«Toda Lisboa mais ou menos culta
assumia perante o poeta-esteta João Salvador* uma posição complicada e peculiar:
pois ao mesmo tempo o admirava (ou não sabia se devia admirá-lo), o desprezava
um pouco, repetia a seu respeito anedotas indecorosas, o temia pela sua língua
delicadamente viperina, e alimentava por ele uma curiosidade que o próprio se
empenhava em açular sem satisfazer. (…) Uma popularidade pouco invejável,
diziam os moralistas e puritanos. Até alguns colegas o diziam; – e colegas em
todos os sentidos, embora alguns secretos. Os versos destes eram vulgares, por
isso eram estes que mais o odiavam e invejavam. (…) Na geral curiosidade que o
envolvia, sobrelevava a da sua origem (que ele caprichava em ocultar): Donde
teria vindo? Em que meio se gerara e criara? Talvez em Alfama, (…) » – JOSÉ RÉGIO em Vidas São Vidas, quarto romance do ciclo A Velha Casa.
* João
Salvador é uma transposição ficcional do poeta António Boto.
sábado, janeiro 16, 2016
"NOVO CANCIONEIRO"
Dez livros de poesia publicados em
Coimbra entre 1941 e 1944 – obras de Fernando Namora, Mário Dionísio, João José
Cochofel, Joaquim Namorado, Álvaro Feijó, Manuel da Fonseca, Carlos de
Oliveira, Sidónio Muralha, Francisco José Tenreiro e Políbio Gomes dos Santos. Primeira
grande manifestação colectiva do neo-realismo português, rompe com a estética
do movimento da presença de José Régio, João Gaspar Simões e Adolfo
Casais Monteiro. À poesia centrada no indivíduo e nos seus dramas interiores, a
geração neo-realista responde com uma poética aberta ao social e à luta de
classes.
«A poesia não está nas olheiras
imorais de Ofélia / nem no jardim dos lilases. // (…) A poesia está na luta dos
homens, / está nos olhos rasgados abertos para amanhã.» – MÁRIO DIONÍSIO, “Arte Poética”, Poemas (1941).
sexta-feira, janeiro 15, 2016
THE RETURN OF THE REAL
THE RETURN OF THE REAL, de Hal
Foster
Quatro
conferências de Sílvia Chicó na CASA DA
ACHADA:
16 de
Janeiro, 16 horas – O porquê da importância deste ensaio.
6 de
Fevereiro – Conceptualismo: antecedentes, razões e consequências.
27 de
Fevereiro – O porquê da recuperação dos temas eternos da arte: paisagem,
retrato e natureza morta.
12 de Março –
Arte e actualidade: procura de raízes culturais.
quinta-feira, janeiro 14, 2016
quarta-feira, janeiro 13, 2016
EM LISBOA,
ao fim da tarde de segunda-feira, sobre o Campo das Cebolas. Lembro-me da personagem José Anaiço
e do bando de estorninhos em A Jangada de
Pedra. A Memória, essa deusa de subtis efeitos!
terça-feira, janeiro 12, 2016
domingo, janeiro 10, 2016
UMA PESSOA DE BOA ÍNDOLE
O
amor é incerto como um carreiro de formigas, disse o meu amigo, um pseudo-estoico
desconhecedor absoluto da filosofia do Barão de Teive.
O amor é o que é, argui
negligentemente.
O meu amigo lançou-me um olhar lívido
e impassível, coçou uma borbulha ao lado do nariz sob o rebordo da lente dos
óculos, e concretizou:
Ela pensava ter-me agarrado pela trela
como um caniche de pelo hirsuto, mas a mim nenhuma me prende: nem pelo sexo,
nem pelo estômago… por coisa nenhuma.
Aguentei a tirada. Eu estava farto
de debater o seu niilismo em matéria de amor e casamento. Anos de conversas, de
conselhos, falando-lhe de entrega e partilha, de vida a dois e de felicidade no
lar não o haviam demovido dos seus abstrusos princípios. Cheguei a oferecer-lhe
uma edição barata da Carta de Guia de
Casados, de D. Francisco Manuel de Melo, e outra luxuosa de A Vida Sexual dos Solteiros e Casados, do médico e sacerdote João Mohana, pensando
poder estimular-lhe uma inclinação para o compromisso. Apresentei-lhe mulheres,
levei-o a bailes, inscrevi-o em sítios de relacionamentos amorosos da Internet
– mas ele, nada.
Andávamos sempre juntos – eu, a
minha mulher e ele – até a coisa começar a ser vista e comentada como um “ménage
à trois”, o que me desgostou profundamente. Foi aí, nesse aperto de ordem ética
e moral, que o atirei para os braços de Adélia, uma descasada de trinta e tal
anos, engolidora de homens, mas com sinais confortantes de alguma propensão para
a estabilidade afetiva.
Adélia prezava muito o social. Ia a
exposições de pintura, a lançamentos de livros, frequentava os eventos
anunciados no “facebook” com a mesma seriedade de quem marca presença em missas
do sétimo dia ou em “raves” de jovens com “disk jockeys” da moda. Adélia fruía
o efémero superior e dava nota disso nas redes sociais. Punha comentários e
“likes” nas páginas de personalidades com 4999 seguidores e inscrevia como
amigos figuras gradas do cinema, do jornalismo e das artes. Era o contrário feliz
da não-inscrição postulada pelo filósofo José Gil.
Devo dizer que, em tempos, estive
apaixonado por Adélia, embora nunca tenhamos chegado a vias de facto. Ela
achava-me piada, brincava comigo e até tentava fazer-me ciúmes, mas, no fundo,
sabia que eu não era homem que pudesse servir-lhe. Desisti dos seus perfumes de
maçã e ervas depois de um jantar de “sushi” acompanhado de saquê. A partir daí,
passámos a falar de dois em dois meses, por telefone, e a enchermo-nos
reciprocamente de “likes” nas mensagens lançadas no “facebook”.
Conheço uma gaja que está bem para
ti, disse ao meu amigo. Deixa lá essas merdas de estoico-epicurista, ó pá, e
mete a mão na massa, que para estupidez já chega o “Soneto de Onan”, de José
Régio, Sim!, só a mim me entrego e me
possuo, / Porque eu me basto para achar o mundo!
O meu amigo foi conhecer Adélia num
restaurante fino e a coisa pegou. Fiquei feliz por ele e por ela. Bem, para ser
sincero senti uma certa dor de corno: Adélia não me dera hipóteses e já se
agradava, assim às primeiras, do meu amigo especioso.
Quando dei a novidade à minha
mulher, vi-lhe no rosto uma sombra de contrariedade. Acabava desta forma o
nosso companheirismo triásico, as noites passadas em discotecas com a sua
cabeça tanto assentando no meu ombro, como os seus seios roçando sem maldade
pelos braços dele.
Sosseguei-a. Continuaríamos a ser
amigos, agora os dois casais, cada um com a sua, não viessem as línguas
ordinárias badalar “foursomes” e orgias, seríamos superiores a isso. Mas Adélia
nunca se aproximou de nós. Durante vários meses deixei de ver o meu amigo,
experienciando, julgava eu, as alegrias gozosas da vida de casal. Quando finalmente
o consegui apanhar para uma conversa é que soube a verdade. Ou seja, meia verdade,
porque a outra metade foi-me contada por Adélia. Tive de juntar as duas partes
para ter a peça completa, verso e anverso, positivo e negativo, afirmação e
contraditório.
Segundo o meu amigo, Adélia era
dominadora, ninfomaníaca e dada a manias de grandeza. De acordo com Adélia, o meu
amigo era vulgar, de relacionamento difícil e muito mau na cama.
Tive pena pelos dois, sou uma pessoa
de boa índole. Contei à minha mulher e um brilho novo surgiu-lhe nos olhos.
Depois disse-me muito mal de Adélia, com quem nunca simpatizara, e concordou
ser o meu amigo, de facto, de uma simplicidade comovente e pouco dado a
convivências em sociedade. Não aceitou, porém, que fosse mau na cama, isso seria
uma calúnia de Adélia. De seguida fez-se muito vermelha, e esta sua reação
tomou-me por uns instantes o pensamento.
Não voltámos a falar de Adélia e, para esquecermos o triste
caso do meu amigo, combinámos uma ida ao cinema no fim de semana seguinte. Os
três, como antigamente.
sexta-feira, janeiro 08, 2016
1966
Ontem, 50 anos depois, na sessão das 18:30 da Cinemateca. Blow-Up. Vanessa Redgrave foi Guinevere, Cleópatra, Ana Bolena,
Cordélia, Clarissa Dalloway, Isadora Duncan… Neste filme, era apenas mulher.
quinta-feira, janeiro 07, 2016
JANEIRAS até de madrugada
Vamos cantar
as janeiras
Vamos cantar
as janeiras
Por esses
quintais adentro vamos
Às raparigas
solteiras
Vamos cantar
orvalhadas
Vamos cantar
orvalhadas
Por esses
quintais adentro vamos
Às raparigas
casadas
Etc.
quarta-feira, janeiro 06, 2016
DIáRIO 6
Estou a ler "Impunidade das Trevas". E lembro-me do filme «As Mil e Uma Noites», 'volume'
1, o único em que assentei a vista. Manuel da
Silva Ramos, se não erro as contas, vai já pelos vinte livros de ficção. Uma
passagem deste (Edições Parsifal, Fevereiro de 2015): « É curioso como este
país se transformou em tão curto espaço de tempo. Agora, por onde se vá, é só
velharia. (…) Os culpados são estes chulíssimos governantes de pacotilha que, a
pretexto do seu bolso, só pensam na fecundação do comércio exportacional . Não
é por acaso que o arauto do negócio global seja um mavioso sem filhos. Viva,
pois, a austeridade sexual.» -- Cap. 5, pp. 22 e 23.
terça-feira, janeiro 05, 2016
DIáRIO 5
Ontem, na
Casa da Achada, leitura de mais um capítulo de A Paleta e o Mundo, de Mário Dionísio. Sábado, dia 9, às 16 horas, não
perder a sessão sobre Conflito e Unidade da Arte Contemporânea – conferência
proferida pelo autor em 1957, na Sociedade Nacional de Belas Artes, com casa
cheia e fortes medidas de intimidação policial, como relata Maria Alzira Seixo
no preâmbulo da recente edição do texto. Luís Miguel Cintra fará a leitura e a
contextualização estará a cargo de Eduarda Dionísio.
segunda-feira, janeiro 04, 2016
domingo, janeiro 03, 2016
DIáRIO 3
Lendo o
conto O Senhor dos Navegantes, de
Ferreira de Castro, só me vinha à memória esta ermida na ilha de São Miguel. Felizmente,
não encontrei no alto nenhuma presença inoportuna. – Nossa Senhora da Paz, Vila
Franca do Campo, São Miguel; fotos de 20-12-2015.
sábado, janeiro 02, 2016
DIáRIO 2
Releio as novelas A
Missão e O Senhor dos Navegantes, de
Ferreira de Castro, em discussão no
Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro no próximo dia 8. A última, inspirou-me
desta vez uma atenção maior: um alucinado (ou talvez não) que se entrega ao trabalho de destruir os ex-votos depositados numa humilde capela sobre uma colina fronteira ao mar. Vejo na enciclopédia Lello Universal: «EX-VOTO : quadro
, imagem, etc., que se coloca em igreja ou ermida, em cumprimento dum voto.» – Simples, não é? E a vontade dos homens?
sexta-feira, janeiro 01, 2016
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