domingo, outubro 24, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (7)

Sábado, 23-10-2021
Chega-se ao portão nº 200 da R. da Junqueira e passa-se o túnel sob o decrépito edifício. Está-se num pátio onde laboram uma empresa de média dimensão e algumas pequenas oficinas (automóveis, mobiliário, etc.). Há ainda um restaurante-esplanada, propriedade de uma senhora guineense que serve pratos africanos, além de vinhos e petiscos mais comuns. Moradores não serão muitos nas casinhas pintadas ao gosto popular. O "mobiliário urbano", sem pretensões, exulta de luz e cor, e a profusão de flores dá ao Outono tons primaveris. Quem anda na rua, descobre, quem não anda... 

sexta-feira, outubro 22, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (6)

SAM THE KID, o rapper de Chelas. Há tempos que me foi apresentado pelo meu filho. Hoje voltámos a falar dele a respeito de uma intervenção sobre língua portuguesa na TV Chelas (You Tube). 

sábado, outubro 16, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (5)


16-10-2021. Devaneio entre Cascais e Lisboa - como Bernardo Soares no Livro do Desassossego -, ou, com mais precisão, entre Carcavelos e Cascais, onde não fui pagar nenhuma contribuição do patrão Vasques, mas ver o que havia de arte no Centro Cultural e na Casa das Histórias. A coisa está minguada de exposições, parece que para Novembro é que arrancam a sério, foi o que me disseram e eu só posso acreditar. À falta de melhor programa, sentei-me na praia que fica perto do extinto restaurante Dom Prego, onde antes do arraial pandémico comia por bom preço uns pregos no prato regados com vinho tinto Porca de Murça.
 

Tarde excelente.

quinta-feira, outubro 14, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (4)

Há pouco, tentando arrumar uns papéis no intervalo do habitual dedilhar de teclas, encontrei uma folha com estas frases escritas pelo meu punho:

Quando chego o piano estala agoiro
*
O dúbio mascarado, o mentiroso
*
Que o meu caixão vá sobre um burro
*
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
*
Lá anda a minha dor às cambalhotas
*
Lord que eu fui das Escócias doutra vida
*
Ai, como eu te queria toda de violetas
*
As companhias que não tive,
*
Outrora imaginei escalar os céus

Sinto que me falta o tempo para tudo, já não digo para escalar os céus, mas para coisas simples como arrumar papéis. As manhãs voam, as tardes estonteiam, as noites liquefazem-se...  Volto à lida.

quarta-feira, outubro 13, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (3)

Nesta data, abro o meu velhinho exemplar de Homem de Palavra(s) (em minha posse desde 1970, embora tenha um mais recente, edição da Assírio & Alvim) e leio na secção "Outono":

IN MEMORIAM

Todos os anos são anos de morte
Os anos morrem por partes dia a dia
O poeta pode ser fraco pode ser forte
por vezes vai dar uma volta e demora
A treze do mês de Outubro foram-se embora
Manuel Bandeira e Cristovam Pavia
Todas as mortes nos matam um pouco
seja a de um santo seja a de um louco
Na irmã morte viva a poesia:
Viva Bandeira viva Pavia

Dia de hoje, o ano é o de 1968.

terça-feira, outubro 12, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (2)

11-10-2021, no sítio do costume, a "pescar" sobre as afinidades filosóficas entre Nietzsche e Dostoievski. Tudo por causa do jovem José Régio e dos seus artigos de princípios dos anos 20 nas revistas estudantis de Coimbra. O Outono não está a correr mal.

domingo, outubro 10, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (1)

 
Domingo, 10-10-2021. Carcavelos do perfumado vinho e de outros perfumes, o período de banhos em suplemento de vida. Por todas as razões e mais esta, a de se estar em pleno Outubro, recordo enternecido os versos de Alexandre O´Neill:

FIM DE SEMANA

Estirado na areia, a olhar o azul,
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.

- De Ombro na Ombreira, 1969