sexta-feira, dezembro 31, 2021

OS MATERIAIS DA VIDA

O título é de Drummond, os materiais da vida. Tenho os meus. Mais singelos, menos elípticos: madeira na cama e na mesa, papel por todo o lado, lãs e fibras sintéticas no vestuário. A vida é um animal bom, como as mulheres. Passa de 31 para 1, de 21 para 22, e é sempre a mesma. Estou satisfeito com os meus materiais da vida, mas não é fácil moldá-los, apará-los, metê-los dentro do coração ou da barriga. Os materiais são tão importantes como os imateriais, é tudo uma questão de nos fazermos à ideia. Mas já chega de conversa, vamos ao poema:

Drls? Faço meu amor em vidrotil
nossos coitos são de modernfold
até que a lança de interflex
vipax nos separe
                            em clavilux
camabel camabel o vale ecoa
sobre o vazio de ondalit
a noite asfáltica
                 plkx

Obrigado, amigo Drummond, bom Ano Novo!

domingo, dezembro 12, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (16)

Hoje, na Gulbenkian, a ver a exposição "Manoel de Oliveira, fotógrafo". Mais de cem fotografias pertencentes ao acervo do cineasta depositado em Serralves. Retrato de Maria Isabel Carvalhais, c. 1939.

sábado, dezembro 11, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (15)

Hoje, actuação do coro da Casa da Achada antes da sessão de lançamento do 2º volume de Passageiro Clandestino, diário de Mário Dionísio respeitante aos anos de 1959-1964 e 1966-1967. A edição vem acompanhada de um livro de notas (595 páginas) organizado por Eduarda Dionísio, preciosa ferramenta para o trabalho de investigadores e outros interessados no período histórico em apreço. Quem conhece textos do autor como A Paleta e o Mundo, a conferência Conflito e Unidade da Arte Contemporânea ou as "fichas" da Seara Nova, não deixará de se surpreender e emocionar pela dimensão eminentemente pessoal destes escritos, pela visão que eles comportam de si mesmo, das relações familiares, dos amigos, da sociedade e do funcionamento da escola pública (Mário Dionísio era professor). Lembrando o título da obra dum conhecido filósofo, apetece-nos exclamar: humano, demasiado humano!  


sexta-feira, dezembro 10, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (14)

Ontem, 9-12-2021, numa rua de Lisboa, com  «o amarelo actual que as folhas vivem», encontrando motivo para passar a palavra a Ricardo Reis:

Quando, Lídia, vier o nosso Outono
Com o Inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
        Primavera, que é de outrem,
Nem para o Estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa —
O amarelo actual que as folhas vivem
        E as torna diferentes.

segunda-feira, dezembro 06, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (13)

Cesar Porto (1873-1944), pedagogo, foi o segundo português a tomar contacto com a Rússia soviética, em Julho de 1925, de visita às instituições educativas daquele país. Antes, tinha ido o operário comunista José Carlos Rates, justamente no fim do período da guerra civil e do comunismo de guerra (1917-1921). No arranque da revolução, registe-se o sobressalto de Jaime Batalha Reis, o nosso diplomata acreditado junto do império dos czares. 
Cesar Porto foi recebido da melhor maneira no país dos sovietes e deixou-nos um relato da sua viagem publicado em 1929. Não sendo comunista, dá-nos uma imagem simpática do sistema escolar e dos esforços de construção do socialismo. De regresso, foram-lhe apreendidos o passaporte e os apontamentos de viagem e ele mesmo cumpriu prisão durante um mês. No fim, foram-lhe restituídos os textos e até conseguiu publicá-los. Leitura interessante.  

quarta-feira, dezembro 01, 2021

DIÁRIO DE OUTONO (12)

Escrevi esta tarde uma adaptação de um conto de Hans Christian Andersen. O título ficou O DUENDE, O MERCEEIRO E AS DUAS MENINAS, e começa assim:

«No tempo em que não havia supermercados, as famílias abasteciam-se de bens alimentares em pequenas lojas chamadas mercearias. Aí compravam as batatas, o açúcar, o azeite e até a carne que era conservada em sal em grossas barricas dispostas atrás dos balcões das lojas. O comerciante dono da mercearia era o merceeiro, e este da nossa história tinha o nome de João. Era o Sr. João, como respeitosamente o tratavam fregueses e vizinhos.
Ora acontecia que (...)»