De novo com este livro de José Régio, o qual, no dizer de Eduardo Lourenço, é o «último
avatar da sua perpétua confissão» (“As confissões incompletas ou a religião de
RÉGIO”, Colóquio/Letras nº 11,
Janeiro de 1973).
Segundo Orlando
Taipa, em “Introdução à Leitura de Confissão
dum Homem Religioso”, a causa próxima deste livro – projecto antigo de José
Régio – foi a publicação do Caderno 3 da
revista O Tempo e o Modo, em Setembro
de 1968, intitulado “Deus o que é?”.
Fomos ver
este caderno de 378 páginas. É composto de artigos de, entre outros, Manuel
António dos Santos Lourenço, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, João Bénard da
Costa, Vergílio Ferreira, António Alçada Baptista e Manuel de Lucena, além de uma
secção antológica de textos doutrinários, testemunhos pessoais e debates
gravados. José Régio não foi convidado a integrar a plêiade de colaboradores e
isso deixou-o “picado”, como, nestes exactos termos, referiu Eugénio Lisboa (José Régio, a obra e o homem). O poeta
de Vila do Conde e Portalegre foi esquecido e menosprezado pela direcção da
revista, ele que vivia o problema de Deus (e do Diabo, também) desde o alvor do
seu labor literário.
Resolveu, de
imediato, começar a escrever a obra que justificava a sua peculiar posição
sobre Deus e a religião. Reformado das funções de professor, tinha todo o tempo
para se dedicar a ela, e a primeira redacção ficaria pronta em Abril de 1969.
Só que com outros trabalhos a que não pôde virar costas e com o enfarte do
miocárdio que lhe sobreveio em princípios de Outubro – causa da morte ocorrida
a 22 de Dezembro – o livro ficou inacabado. A revisão autoral não passou de
escassas páginas do Capítulo I e um último e importante capítulo – de título “A
Religião para sempre” – não chegou a ser escrito.
Mesmo assim,
é obra interessante de se ler, pelo conteúdo autobiográfico – que explica muito
dos seus anos de infância, adolescência
e primeira juventude – e pelo forte pendor confessional que preside ao desenvolvimento das suas ideias sobre Deus e a religião.
Aliás, voltando às palavras de Eduardo Lourenço no artigo da revista Colóquio/Letras, «mais
confessional obra literária não existe entre nós.»