JOAQUIM DE ARAÚJO (Penafiel, 1858 - Telhal, Sintra, 1917)
Quantos dos nossos poetas do século
XX serão recordados e lidos de aqui a cem anos? Não tenho dúvidas de que
Pessoa, Sophia, Herberto Helder, Ruy Belo e mais uns quantos lograrão escapar ao
anel de sombra e esquecimento que sempre envolve os feitos dos homens, por mais
nobres que eles sejam.
Alguém sabe – de uma forma geral,
evidentemente – quem foi Joaquim de Araújo?
Autor, entre outros trabalhos, do
poemeto Luís de Camões (1887), tentou que Eça de Queirós lhe escrevesse – com a urgência reclamada pelo
processo editorial em curso – um prólogo de considerável extensão para a sua
obra. A resposta por carta do escritor é exemplar, está compilada em Notas Contemporâneas, pelo que admito que
não havendo prólogo, converteu-se o desiderato de Araújo em carta-prefácio e já foi muito
bom. Diz o mestre:
«Os seus sonetos, para encantarem,
não necessitam dos meus laboriosos comentários. Se os rouxinóis, por motivos
filosóficos, se decidissem a não cantar sem terem ao lado um crítico hábil que
lhes explicasse o canto – deve confessar, meu caro Araújo, que os arvoredos
perdiam logo todo o seu idílio e todo o seu mistério. As obras de arte devem
falar por si mesmas, explicar-se por si mesmas, sem terem necessidade de pôr
ao lado um cicerone». Avançando depois: «O meu prólogo seria um bocado
de chumbo atado à asa duma linda e ligeira ave… Publique os seus sonetos sós, e os homens de gosto ficar-lhe-ão
agradecidos». E como argumento final: «De resto, como lhe disse, a dificuldade
é você ter pressa e eu ser um homem de inspiração tão lenta.»
Ficou Joaquim de Araújo sem prólogo,
valeu-lhe talvez a carta-prefácio, mas isso em nada contrariaria o esquecimento
a que foi votado, não obstante a dignidade das obras e serviços prestados.
Mnemósine, personificação mitológica da memória e mãe das nove musas, que partidas
pregas aos homens!
Sem comentários:
Enviar um comentário