Agora que
por causa das iniciativas legislativas do PAN e do PSD muito se tem falado da
maçonaria, é interessante recuperar uma página de José Régio em Confissão dum Homem Religioso, livro publicado
postumamente há 50 anos.
Tem a ver com
o «tio brasileiro», emigrante que fez fortuna no Brasil e a deixou à irmã
Libânia, tia-avó do poeta, grande matriarca e garante de uma prosperidade de
que beneficiou toda a família. O avô do poeta, monárquico miguelista, castigado
com um filho que aderira às ideias republicanas, foi deserdado por uma
divergência familiar relacionada com o seu segundo casamento.
Diz José
Régio a respeito do avô e da fortuna do «tio brasileiro»:
«Se acabara
por aceitar o republicanismo do filho, teria alguma vez aceitado (ou que
perturbação lhe não causaria!) o facto de o irmão «brasileiro» se ter feito maçon no Brasil? Sempre se referia com
reverência a esse irmão que o deserdara. Ora os maçónicos eram para o meu avô
os mais sinistros, perigosos, abomináveis dos indivíduos! Confesso haver ficado
eu próprio muito confuso, ou quase aterrado, quando, abrindo com chave falsa as
velhas gavetas duma papeleira tentadora, descobri livros e papéis que me convenceram
desta monstruosidade: O tio brasileiro, o grande homem tão respeitado duma
família tão católica, apostólica, romana, (embora com aquelas pequenas liberdades
adstritas às devoções muito particulares de cada um) – pertencera à maçonaria! fora
uma maçónico! assim arranjara, talvez, o seu dinheiro, pois então se repetia
que filiar-se na maçonaria era uma vergonhosa maneira de fazer fortuna.»
Sem tirar nem pôr, bem-avisados são, nos tempos que correm, os deputados do PAN e do PSD.
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