domingo, março 21, 2021

A ESPUMA DOS DIAS: POLÉMICA SOBRE A MAÇONARIA

Agora que por causa das iniciativas legislativas do PAN e do PSD muito se tem falado da maçonaria, é interessante recuperar uma página de José Régio em Confissão dum Homem Religioso, livro publicado postumamente há 50 anos.
Tem a ver com o «tio brasileiro», emigrante que fez fortuna no Brasil e a deixou à irmã Libânia, tia-avó do poeta, grande matriarca e garante de uma prosperidade de que beneficiou toda a família. O avô do poeta, monárquico miguelista, castigado com um filho que aderira às ideias republicanas, foi deserdado por uma divergência familiar relacionada com o seu segundo casamento.
Diz José Régio a respeito do avô e da fortuna do «tio brasileiro»:
«Se acabara por aceitar o republicanismo do filho, teria alguma vez aceitado (ou que perturbação lhe não causaria!) o facto de o irmão «brasileiro» se ter feito maçon no Brasil? Sempre se referia com reverência a esse irmão que o deserdara. Ora os maçónicos eram para o meu avô os mais sinistros, perigosos, abomináveis dos indivíduos! Confesso haver ficado eu próprio muito confuso, ou quase aterrado, quando, abrindo com chave falsa as velhas gavetas duma papeleira tentadora, descobri livros e papéis que me convenceram desta monstruosidade: O tio brasileiro, o grande homem tão respeitado duma família tão católica, apostólica, romana, (embora com aquelas pequenas liberdades adstritas às devoções muito particulares de cada um) – pertencera à maçonaria! fora uma maçónico! assim arranjara, talvez, o seu dinheiro, pois então se repetia que filiar-se na maçonaria era uma vergonhosa maneira de fazer fortuna.»
Sem tirar nem pôr, bem-avisados são, nos tempos que correm, os deputados do PAN e do PSD.

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