A imagem do cartaz é
quase bucólica. Umas poucas pessoas sentadas tranquilamente sob os pinheiros,
comendo e conversando, como se estivessem num parque de merendas em pleno campo.
A Festa não é isto, logo, o cartaz é um engano, um artifício para iludir os
censores.
Em outros tempos, a
imprensa neo-realista inventou a palavra diamática
para se referir a “materialismo dialéctico”. E usava a perífrase “um grande
pensador do século XIX” quando queria citar Karl Marx. Eram artifícios para
contrariar a lei da mordaça. De certa maneira, o cartaz da Festa cumpre
desígnios paralelos.
A Quinta da Atalaia e
a do Cabo da Marinha perfazem 30 hectares, área correspondente a 30 campos de futebol,
desses que levam 50 000 espectadores. Sendo esperados até 33 000 visitantes
por dia, temos cerca de 9 m2 por pessoa. Parece seguro, se não se tiver em
conta que os visitantes não se distribuem de modo regular por todo o espaço,
mas antes se concentram nos locais dos eventos, nas tendas de comes e bebes, nos
pavilhões, no comício, etc. Como o cartaz, esta engenharia de números é um
artifício.
Então seria melhor não
se fazer a Festa, aceitando como bom o coro de políticos e comentadores que vai
nesse sentido? Julgo que não. Precisamos de descartar o conformismo e ir dando
pontapés no medo. Como disse Jerónimo de Sousa, a Festa faz-se para dar «um
sinal de esperança e de convivência em segurança». É claro que também há os
objectivos financeiros, é escusado negá-lo, mas o que gostaria de reter é esta
ideia de um sinal de esperança.
Que ele seja visível e a segurança não falte. Por mim, até sou capaz de ir este ano à Festa
do Avante!.
2 comentários:
Também gostava de lá ir este ano, mas tenho de aproveitar o Guincho...
O Guincho já é uma festa...
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