quinta-feira, outubro 17, 2019

CARTAS A MARIA


A Maria das cartas é a madrasta de Mário de Sá-Carneiro, Maria Cardoso Peixoto, que contraiu matrimónio com o pai do poeta em 4 de Novembro de 1915. Maria tinha na altura 41 anos e Mário 25. As cartas de antes e de depois do casamento mostram uma relação de amizade muito terna, por vezes piegas, com tratamento por tu e vocativos demonstrativos destes sentimentos: «Minha Querida Maria», «Querida Mimi», «Mimi do Mário Querida», «Querido  amor» e «Querida Maria do Mário». Uma das cartas é assinada como «Mário (teu! teu! teu!)»  e outra pelo nome secreto de Bezerro.
Em carta de Paris, de 9 de Agosto de 1914, quando a guerra já havia começado e o pai viajava por África, Mário diz a Maria: «Em primeiro lugar está tranquila. Aqui não corro perigo nenhum! Apenas às 8 horas – cama me fecit (sic) porque fecha tudo!... E há também que andar à pata todo o dia pois os ómnibus andam todos em serviço militar – e o pessoal dos eléctricos e do metropolitano foi todo para a guerra…» E mais adiante: « (…) tenho muita pena da minha querida, querida Mimi pelo preocupada que está – e de resto eu compreendo muito bem. Não julgues tu que não avalio como deves ter andado triste – que não avalio o que tu e o papá devem sofrer. Juro-te que o sei medir muito bem – e que tudo isso, tudo isso me contrista muito. Simplesmente o que havemos de fazer?» Mário estava triste pela separação e pela tristeza dos seus, mas o apelo de Paris, mesmo com uma guerra à porta, era mais forte em si.  


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