A Maria das
cartas é a madrasta de Mário de Sá-Carneiro, Maria Cardoso Peixoto, que
contraiu matrimónio com o pai do poeta em 4 de Novembro de 1915. Maria tinha na
altura 41 anos e Mário 25. As cartas de antes e de depois do casamento mostram uma
relação de amizade muito terna, por vezes piegas, com tratamento por tu e
vocativos demonstrativos destes sentimentos: «Minha Querida Maria», «Querida
Mimi», «Mimi do Mário Querida», «Querido
amor» e «Querida Maria do Mário». Uma das cartas é assinada como «Mário (teu! teu! teu!)» e outra pelo nome secreto de Bezerro.
Em carta de
Paris, de 9 de Agosto de 1914, quando a guerra já havia começado e o pai
viajava por África, Mário diz a Maria: «Em primeiro lugar está tranquila. Aqui não
corro perigo nenhum! Apenas às 8 horas – cama me fecit (sic) porque fecha tudo!... E há também que andar à pata todo o dia
pois os ómnibus andam todos em serviço militar – e o pessoal dos eléctricos e
do metropolitano foi todo para a guerra…» E mais adiante: « (…) tenho muita
pena da minha querida, querida Mimi pelo preocupada que está – e de resto eu
compreendo muito bem. Não julgues tu que não avalio como deves ter andado
triste – que não avalio o que tu e o papá devem sofrer. Juro-te que o sei medir
muito bem – e que tudo isso, tudo isso me contrista muito. Simplesmente o que
havemos de fazer?» Mário estava triste pela separação e pela tristeza dos seus,
mas o apelo de Paris, mesmo com uma guerra à porta, era mais forte em si.
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