Em Germinal, durante a greve dos mineiros,
e em As Vinhas da Ira, quando na mira
dos lucros acrescidos da mecanização se dá a expulsão dos rendeiros das suas
terras, as decisões transmitidas pelos agentes dos proprietários são sempre feitas
em nome da companhia, entidade
distante, invisível e incorpórea na qual, como diz uma personagem de Steinbeck,
não há a possibilidade de se dar um tiro. Esta ideia do capital anónimo – um
monstro de muitos braços cuja cabeça não é conhecida – está presente em várias
passagens dos primeiros capítulos de As
Vinhas da Ira. Veja-se a fala de um dos rendeiros obrigado a sair da terra
que era trabalhada pela sua família há duas gerações: « – O tipo que veio
falava com a doçura de um pastel de nata. “Vocês têm de sair. A culpa não é
minha”. “Então”, disse eu, “de quem é a culpa, que eu vou dar cabo do sujeito?”
“É da Companhia Shawnee de Terras e de Gado. Eu apenas recebi ordens.” “Quem é
a Companhia Shawnee de Terras e de Gado?” “Não é ninguém. É uma companhia.”» E
no romance de Zola há algo de semelhante quando a comissão de greve vai
dialogar com o director da mina, Philippe Hennebeau, dizendo-se este um mero
servidor da companhia que lhe paga o salário, não dispondo de poder para satisfazer
as exigências dos mineiros. Entre um e outro romance decorrem cinquenta e cinco
anos, a emergência de uma guerra mundial e a primeira grande crise do
capitalismo moderno. Os principais traços das relações entre patrões e trabalhadores
mantêm-se porém inalterados.
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