A série II da revista presença (apenas dois números, o
primeiro publicado em Novembro de 1939 e o derradeiro em Fevereiro de 1940) foi
a tentativa de reanimar uma revista esgotada em termos programáticos e de
intervenção numa altura em que a censura do Estado Novo apertava o cerco às
publicações não alinhadas pelos seus ditames ideológicos.
No editorial do nº 1
da série II – “Presença reaparece” – , um texto não assinado mas saído
claramente da pena de José Régio, são convidados para a revista todos os
«verdadeiros artistas, críticos ou pensadores de qualquer escola, idade,
classe», convite extensivo à geração neo-realista que, aliás, havia já
colaborado em números anteriores com textos poéticos de Joaquim Namorado, Fernando
Namora, João José Cochofel e Mário Dionísio.
Não se duvida da
sinceridade da proposta, mau grado as divergências que se iam cavando entre
Adolfo Casais Monteiro e João Gaspar Simões, servindo José Régio de mediador,
na verdade nem sempre isento.
José Régio queria
sangue novo na revista, e até “sangue velho”, se se tiver em conta o convite
feito aos cisionistas de 1930 (Branquinho da Fonseca, Edmundo Bettencourt e Adolfo
Rocha /Miguel Torga), convite que os dois primeiros se dispuseram a aceitar.
Roberto Nobre –
artista plástico, cineasta e crítico de cinema –, grande amigo de Ferreira de
Castro, era desejado por Régio na presença.
Numa carta para Alberto de Serpa, datada de Junho de 1939, diz o poeta: «Quanto
ao Roberto Nobre, não o convidei ainda, pelo menos categoricamente, porque
exactamente o Adolfo não concordava. E sabes porquê? Porque o Nobre saíra do Diabo à chegada destes que lá estão
agora; e o Adolfo não aprovara tal atitude, e achava que era “andarmos aos
caldos” (a expressão é dele) convidarmos o nosso melhor crítico
cinematográfico. Calei-me…
provisoriamente. Não desisto, nunca desistirei, de ver o Nobre na presença… se a presença resistir a estes embates.»
Não resistiu, acabou
ao 13º ano de publicação. No próximo mês de Março completam-se 90 anos sobre o aparecimento
da “folha de arte e crítica” coimbrã, estando anunciado para 9 e 10 de Maio um
congresso na Faculdade de Letras de Lisboa, organização do Centro de Estudos Regianos
e do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias daquela faculdade. Será
a oportunidade de se realizar mais um debate sobre a vida e morte da revista
que mostrou Fernando Pessoa aos leitores portugueses, tendo contribuído de
forma decisiva para a renovação estética da arte e da literatura portuguesas no
segundo quartel do século XX.
2 comentários:
Extraordinário, meu caro!
E pensar que o Casais era o tipo mais à esquerda da direcção.
Penso que conhece a troca de correspondência entre o Régio e o Nobre, precisamente sobre a presença, publicada há uns anos pelo Eugénio Lisboa, no Boletim do CER.
Com sua licença, vou repostar isto no blogue do FC & Amigos.
Abraço.
Poste à vontade, meu caro.
Vi essa correspondência, mas agora vou olhar melhor para ela.
Já respondi ao mail.
Abraço
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