No asteróide do principezinho havia
embondeiros, três vulcões e uma flor com quatro espinhos.
«Nunca lhe devia ter dados ouvidos»,
dizia ele sobre a flor, para logo continuar: «Nunca se deve dar ouvidos às
flores. Deve-se é olhar para elas e cheirá-las. A minha, perfumava-me o planeta
todo, mas eu não era capaz de dar valor a isso.»
Sim, é certo que há flores com
espinhos, mas o pior que pode acontecer é não se chegar a cheirá-las, belas
e assustadoras que tantas vezes se apresentam. E acrescentava: «Não fui
capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras, mas pelos
seus actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia
ter sido capaz de perceber toda a ternura escondida naquelas suas pobres
manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo de mais para saber
amar.»
O principezinho fugiu por não saber
amar. Esta não parece ser uma história para crianças e, no entanto, como tal
foi recebida em Nova Iorque naquele ano de 1943, quando não se sabia bem para
que lado das trincheiras cairia o vasto planeta chamado Terra, mundo infinitamente
maior e mais complicado que o asteróide dos embondeiros, dos três vulcões e da
flor com quatro espinhos.
José Régio chamou ao seu livro O Príncipe com Orelhas de Burro uma
história para crianças grandes. O
Principezinho, para além de interessar aos mais pequenos, é uma história para homens que não
perderam a memória de terem sido crianças, ou, de outra forma, para a criança
que há dentro de cada homem, assim sejam eles capazes de a encontrar.
Na Terra, o principezinho viu campos
com milhares de rosas e compreendeu que nenhuma se comparava à sua flor de
quatro espinhos. Às vezes acontece compreender-se demasiado tarde o que está mesmo
diante dos olhos.
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