Tendo professado no convento da Rosa de
Lisboa, situado na Costa do Castelo e destruído pelo terramoto de 1755, sóror
Violante do Céu (1607-1693) distinguiu-se pela sua poesia de expressão amorosa,
não tanto de amor ao “Divino Amante”, como algumas religiosas suas contemporâneas,
mas ao amante carnal que se apresentava
às grades do convento e nele era recebido como na intimidade de uma
alcova. Ora veja-se este belo soneto:
Que
suspensão, que enleio, que cuidado
é este
meu, tirano Deus Cupido?
pois
tirando-me enfim todo o sentido
me
deixa o sentimento duplicado.
tanto
de meus sentidos me divido,
que
tenho só de vida o bem sentido,
e
tenho já de morte o mal logrado.
Enlevo-me
no dano que me ofende,
suspendo-me
na causa de meu pranto,
mas
meu mal (ai de mim) não se suspende.
Oh
cesse, cesse, amor, tão raro encanto,
Que
para quem de ti não se defende
Basta
menos rigor, não rigor tanto.
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