quinta-feira, setembro 10, 2020

RELEITURAS

A OBRA-PRIMA DE ALVES REDOL, romance escrito há sessenta anos. Quem foi, na vida real, Diogo Relvas, o lavrador «cruel e bondoso, tirano e, não obstante, tocado pela necessidade de justiça»? Com este perfil o definem na contracapa da edição da Europa-América. No prefácio escrito para a obra, Mário Dionísio prefere apresentá-lo como o agrário que trata com «severidade igual quem põe a sua ordem em perigo, sejam criados ou os próprios filhos.» E que reage – com o instinto próprio da sobrevivência – contra os que o ameaçam com as grandes desordens da época: a indústria, os caminhos-de-ferro e o liberalismo. Sim, Diogo Relvas existiu com outro nome em terras de lavoura da lezíria ribatejana. Redol  - neto de campino seu servidor – conhecia-o bem, dizendo no texto “Breve nota de culpa” que precede o romance: «Entre a fábula e a realidade, procurarei relatar o que foi passado à minha beira, não só o que soube e vi, mas também o que inventei  na interpretação imaginosa da história desse homem, meio Deus meio lavrador, cuja sombra ainda hoje se projecta na pausa absurda dos netos, que teimam em prolongá-lo.»  

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