Hoje, veio-me este livro às mãos. É um conjunto de textos diarísticos que abre com o "Diário que Vergílio Ferreira escreveu para Regina Kasprzykowski"(19 de Julho a 14 de Outubro de 1944). E lembrei-me do que deixei escrito num trabalho académico de 2012. Citação:
« Vergílio Ferreira diz no diário que escreveu para Regina Kasprzykowsky (o que constitui uma curiosa derrogação do cânone do género, já que os escritos diarísticos, ainda que por vezes possam ter o próprio diário como interlocutor, costumam ser uma conversa do diarista consigo mesmo): Tu sabes que um diário é sempre falso. Nós somos quase sempre falsos até mesmo quando pensamos, porque o pensar é já desnudar-se uma pessoa perante si mesma. E no primeiro volume de Conta-corrente, regressa a este tema da sinceridade: Volto a isto - porquê? Um subtil ridículo de um "diário", da "confissão" - já o disse. Creio que a única possibilidade de me "pôr a nu" está no saldo de cada romance. O resto é pudor e consequente disfarce. Béatrice Didier vê a questão da sinceridade do diário íntimo como uma querela inútil: Le journal est insincère comme toute écriture; il a le privilège sur d´autres types d´écriture de pouvoir être doublement insincère, puisque, encore une fois, le "moi" est en même temps sujet et object.»
Pronto. Depois disto, é pensar se vale mesmo a pena escrever um diário.
« Vergílio Ferreira diz no diário que escreveu para Regina Kasprzykowsky (o que constitui uma curiosa derrogação do cânone do género, já que os escritos diarísticos, ainda que por vezes possam ter o próprio diário como interlocutor, costumam ser uma conversa do diarista consigo mesmo): Tu sabes que um diário é sempre falso. Nós somos quase sempre falsos até mesmo quando pensamos, porque o pensar é já desnudar-se uma pessoa perante si mesma. E no primeiro volume de Conta-corrente, regressa a este tema da sinceridade: Volto a isto - porquê? Um subtil ridículo de um "diário", da "confissão" - já o disse. Creio que a única possibilidade de me "pôr a nu" está no saldo de cada romance. O resto é pudor e consequente disfarce. Béatrice Didier vê a questão da sinceridade do diário íntimo como uma querela inútil: Le journal est insincère comme toute écriture; il a le privilège sur d´autres types d´écriture de pouvoir être doublement insincère, puisque, encore une fois, le "moi" est en même temps sujet et object.»
Pronto. Depois disto, é pensar se vale mesmo a pena escrever um diário.
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