terça-feira, dezembro 24, 2019

MISSA DO GALO

 
Conto de MACHADO DE ASSIS, não sei quantas vezes já o li. O narrador, de dezassete anos, tem uma conversa com a sua hospedeira, Dona Conceição, de trinta. O marido tinha ido para o teatro na noite de Natal, eufemismo usado pelo próprio para as suas surtidas de adúltero. O jovem, estudante de preparatórios para a universidade, esperava pela meia-noite para ir com um vizinho à missa do galo. Nunca compreendeu a conversa que teve com Dona Conceição, senhora de tão boa índole que até lhe chamavam "a santa". A conversa sobrepôs-se à leitura de Os Três Mosqueteiros que pensava tomar até à hora da missa. Diz ele: «Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima.» Se o narrador não conseguiu perceber o sentido exacto da conversa, como havemos nós de o saber? Mas ainda bem, assim há sempre motivos para voltar ao conto.

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