As ligações afectivas
mais ou menos duradouras são por vezes designadas, nas redes sociais da Internet, por esta expressão singular: “estar
numa relação”. A princípio era o precariado juvenil que se servia dela, mas ultimamente
tem vindo a estender-se a outros estratos etários, alguns de pessoas de razoável
nível social e cultural.
Um professor
universitário apresenta no seu perfil da rede social facebook um dado curioso: «Numa
relação desde Janeiro de 2015».
“Estar” numa
relação não é o mesmo que “ter” uma relação, porque a diferença entre ter e
estar exprime um sinal de precariedade característico da sociedade
moderna em que vivemos, uma sociedade de “corrosão do carácter”, como foi
assinalado pelo sociólogo Richard Sennett.
Quando “estiver”
numa nova relação, o dito professor indicará provavelmente “desde Agosto de 2015” ou “desde Fevereiro de
2016”, fixando assim o curso temporal e a transitoriedade dos seus afectos. Hoje, e cada vez mais, o que parece corresponder às aspirações de muitos não são relações que se desejem duradouramente boas, mas,
simplesmente, que sejam boas enquanto
durarem.
“Estar numa
relação” é uma coisa tão moderna que não nos vemos a dizer de Franz Kafka que
esteve numa relação com Felice Bauer ou Milena Jesenská. E o mesmo de Garrett com
a Viscondessa da Luz.
“Estar numa
relação” é, portanto, matéria de Sandras Vanessas e Alexes Romeus, miudagem dos
nossos dias, mas também de alguns senhores e senhoras com nomes antigos e idades
para serem vovós.
Cá por mim,
que sou mais antigo que moderno, ainda vou preferindo o “ter” ao “estar”. Mas
isso, dirão os meus amigos e eu humildemente aceito, são manias
de quem quer ser diferente e, afinal, não deixa de ser igual aos demais.
2 comentários:
My friend, move to British words: to be or not to be, ...it's the question :) :)
Estar ou não estar, mas antes estar ou ter. O to be or not to be não colhe, Hamlet não é para aqui chamado. Felizmente.
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