Numa carta
de Eça de Queiroz para Ramalho Ortigão, datada de Londres, 14 de Outubro de
1885, o nosso cônsul comunicava ao bom amigo e companheiro de letras o seu
casamento com Emília Rezende:
«Este
casamento, e a séria e grave afeição que o produz, é tão simples que não tem
história.» Uma boa maneira de abordar o assunto, não haja dúvida, mas o melhor
vem depois: «O único lado pitoresco (…) é que, quando a Emília e eu estávamos
constantemente juntos, na longa intimidade de três meses, falávamos de livros,
de cozinha, do que dizia o “Ilustrado”, um pouco de religião, muito das
senhoras da Granja, de arte, de cães, da cultura da beterraba e uma ou outra
vez do Fontes.» Conversas de praia, é claro. E continua: «E foi quando nos
separámos” – as férias de Verão, Setembro dentro, teriam entretanto acabado –
«que, de repente, batendo cada um por seu lado na testa, exclamámos a toda esta
distância: – É verdade, esqueceu-nos de dizer que devíamos unir os nossos
destinos!» Muitas vezes as coisas acontecem assim, há uns esquecimentos, mas
acaba tudo em bem… E remata: « É este o único lado pitoresco. O resto é um
pouco terre-à-terre, não vale de modo nenhum o esplendor lírico de Romeu and
Juliet e não podia ser posto em árias pelo lânguido Gounod.»
Perfeito! Ficamos
mais confortados: as coisas, às vezes, não são tão complicadas como nós a
fazemos.
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