Para quem não sabe, digo que não morro de amores por este escritor,
eterno candidato ao Nobel de Literatura, mas pode ser que lá chegue este ano.
Li hoje, a modos que por dever de ofício, o primeiro conto da colectânea “O
Elefante Evapora-se”, uma história com um homem, três mulheres, um gato
desaparecido e um pássaro de corda. Das mulheres, que é o que mais interessa,
uma é uma espécie de telefonista de linhas eróticas; outra, uma adolescente a
cheirar a leite, mas muito atrevida; e a última é a legítima do homem à beira de
deixar de o ser. Não está mal, só que ainda ando à procura do subtexto. Como as
coisas estão, duvido bem que o venha a encontrar.
terça-feira, setembro 30, 2014
sábado, setembro 27, 2014
O CANTARIL
Afago-te a
barbatana do dorso como a um animal
de pêlo, mesmo
sabendo que vais rasgar-me os dedos
num assomo de
lâminas e espinhos de roseira brava.
Enganador o
género do teu nome: arranhas e mordes
com
requintes de fêmea, e eu deixo-me morrer
sob o olho túrgido
com que devassas os abismos
do oceano em
riste. És tu ou o quê, bicho de sal e água?
Como-te num assado de forno; chamo-te peixe
para esquecer que existes.
para esquecer que existes.
27/9/2014
terça-feira, setembro 23, 2014
O AMOR É SIMPLES
Numa carta
de Eça de Queiroz para Ramalho Ortigão, datada de Londres, 14 de Outubro de
1885, o nosso cônsul comunicava ao bom amigo e companheiro de letras o seu
casamento com Emília Rezende:
«Este
casamento, e a séria e grave afeição que o produz, é tão simples que não tem
história.» Uma boa maneira de abordar o assunto, não haja dúvida, mas o melhor
vem depois: «O único lado pitoresco (…) é que, quando a Emília e eu estávamos
constantemente juntos, na longa intimidade de três meses, falávamos de livros,
de cozinha, do que dizia o “Ilustrado”, um pouco de religião, muito das
senhoras da Granja, de arte, de cães, da cultura da beterraba e uma ou outra
vez do Fontes.» Conversas de praia, é claro. E continua: «E foi quando nos
separámos” – as férias de Verão, Setembro dentro, teriam entretanto acabado –
«que, de repente, batendo cada um por seu lado na testa, exclamámos a toda esta
distância: – É verdade, esqueceu-nos de dizer que devíamos unir os nossos
destinos!» Muitas vezes as coisas acontecem assim, há uns esquecimentos, mas
acaba tudo em bem… E remata: « É este o único lado pitoresco. O resto é um
pouco terre-à-terre, não vale de modo nenhum o esplendor lírico de Romeu and
Juliet e não podia ser posto em árias pelo lânguido Gounod.»
Perfeito! Ficamos
mais confortados: as coisas, às vezes, não são tão complicadas como nós a
fazemos.
domingo, setembro 21, 2014
VIAGENS NA MINHA TERRA
O criptopórtico de Aeminium (séc. I ou II d. C.), como o vi ontem no local (Museu Machado de Castro, Coimbra) e hoje numa gravura do livro de Jorge de Alarcão O Domínio Romano em Portugal. « O criptopórtico de Aeminium foi construído em dois andares. (...) Não temos dados para a identificação do arquitecto; mas não é hipótese destituída de senso pensar que tenha sido Caio Sévio Lupo, o mesmo architectus aeminiensis que construiu o farol romano da Corunha.» (Cap. VIII, p. 184 da obra citada.)
quarta-feira, setembro 10, 2014
TRISTEZA
ALBRECHT DÜRER (1471-1528), Melancolia, gravura (1514)
“Uma
irresistível e já automática associação de ideias faz-me sempre recordar a Melancolia de Dürer quando penso na obra
de Eduardo Lourenço. Se o Só de
António Nobre é o livro mais triste que alguma vez se escreveu em Portugal ,
faltava-nos quem sobre essa tristeza refletisse e meditasse. Veio Eduardo
Lourenço e explicou-nos quem somos e porque o somos. Abriu-nos os olhos, mas a
luz era demasiado forte. Por isso, tornámos a fechá-los.”
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