domingo, agosto 16, 2009
PLOTINA - A propósito de "Memórias de Adriano"
Lembro-me, Plotina, de quando demos as mãos
naquele dia de Inverno em Antioquia. O sismo
derrubara as traves das casas,
espalhara um cheiro de morte
nas florestas e praias da Síria,
e entre o desânimo dos soldados, que viam
na catástrofe o presságio de próximas derrotas,
só o Imperador,
heroicamente obstinado, acreditava nos reflexos
de oiro lavrados nas areias da Ásia.
Lias-me um poema grego, a tua voz era
um cântico de musa, e um diadema de volutas
cingia-te a fronte. Tive a certeza,
naquele instante de suprema elevação, feito
de poesia e dos mais puros afectos,
de que eram os mesmos os caminhos
por onde seguíamos, que tu me conhecias e amavas
como o vento conhece e ama
as copas das árvores, os cabelos das mulheres,
o delírio ondulante das searas
nas tardes rubras do mês das espigas.
Estive sempre longe e perto de ti. Busco agora,
nas folhas da memória, o viso terno do teu rosto de diva.
Amei-te mais com a alma e menos com o corpo,
e só por isso foste verdadeiramente minha.
Passaste como a ave
que risca os céus e se detém no olhar
de quem está preso à terra.
Salvaste-me.
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1 comentário:
Ocorre-me a palavra encantamento!
Inspiradora Plotina!
Adriano "diz" a determinado momento nas suas Memórias ".... Mas tudo me desagradava naquele meio, excepto o belo rosto de Plotina ..."
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