Já me desgostei da poesia de José Régio, chegando mesmo a crer que só no teatro e na ensaística, quiçá em alguma das suas ficções curtas, se manifestava o génio artístico do seu perfil de “contemporâneo capital”, como lhe chamou Eduardo Lourenço. Se é nos Poemas de Deus e do Diabo e em Biografia que melhor me encontro com a sua lírica, há sempre alguns poemas, fora daquelas obras, que não deixam de me entusiasmar. Este é um deles, e adivinhe-se porquê:
O jongleur de estrelas tem os pés de barro,
Tem as mãos de cinza…
Sobre os pés de barro salta no infinito,
Com as mãos de cinza movimenta os astros.
O jongleur de estrelas tem os olhos fixos,
Mas em todo o corpo nervos dinamistas.
Seus nervos dispersos dão um acorde único…
Não! seus olhos fixos é que olham mil pistas.
O jongleur de estrelas é mentira!: mente
Na retina fosca dos que julgam vê-lo.
O jongleur de estrelas não se vê de fora,
Por ser de mais belo!
Ora um dia, o dedo do Senhor, clemente,
Tocar-lhe-á, misericordiamente.
E o jongleur de estrelas há-de desfazer-se
Sobre os pés de barro, sobre as mãos de cinza…
Do jongleur de estrelas restam as estrelas,
E outros brincarão com elas!
JOSÉ RÉGIO, Livro Terceiro de As Encruzilhadas de Deus
O jongleur de estrelas tem os pés de barro,
Tem as mãos de cinza…
Sobre os pés de barro salta no infinito,
Com as mãos de cinza movimenta os astros.
O jongleur de estrelas tem os olhos fixos,
Mas em todo o corpo nervos dinamistas.
Seus nervos dispersos dão um acorde único…
Não! seus olhos fixos é que olham mil pistas.
O jongleur de estrelas é mentira!: mente
Na retina fosca dos que julgam vê-lo.
O jongleur de estrelas não se vê de fora,
Por ser de mais belo!
Ora um dia, o dedo do Senhor, clemente,
Tocar-lhe-á, misericordiamente.
E o jongleur de estrelas há-de desfazer-se
Sobre os pés de barro, sobre as mãos de cinza…
Do jongleur de estrelas restam as estrelas,
E outros brincarão com elas!
JOSÉ RÉGIO, Livro Terceiro de As Encruzilhadas de Deus
Também gosto muito.
ResponderEliminarConfesso que do José Régio, dos mais, me guardo no (Poema do) Silêncio!
ResponderEliminarSem desmerecer esta referência, claro.